Entrevista

Jeremy Strong e a força de Jon Landau

Em Springsteen: Salve-me do Desconhecido, Jeremy Strong vive Jon Landau, o lendário produtor e parceiro de Bruce Springsteen, um papel que, segundo o ator disse em coletiva, exigiu mais introspecção do que qualquer outro em sua carreira. “Jon tem uma pureza rara. A devoção dele a Bruce supera qualquer devoção a um astro do rock”, explicou durante coletiva de imprensa do filme.

Strong recordou a célebre frase de Landau,“Eu vi o futuro do rock and roll e seu nome é Bruce Springsteen”, que mudou a vida de ambos. “Ele escreveu isso em 1974, quando ainda era crítico musical. Ela foi ouvida ao redor do mundo. A partir dali, tudo se transformou”, disse o ator. Para ele, a relação entre os dois vai muito além da parceria profissional: “Jon escreveu que sem paixão não há compromisso, e sem compromisso não há honestidade. É uma filosofia que levo comigo. Estou nesse mesmo trem da intensidade e da verdade.”

O ator conta que mergulhou em meses de pesquisa, assistindo a arquivos compartilhados pelo documentarista Thom Zimny e acompanhando a rotina de Springsteen e Landau. “Passei um tempo com eles em turnê. Vi o ritual que fazem antes dos shows. Eles se abraçam, encostam as testas, como um tipo de bênção. Depois, Jon assiste ao Bruce da cabine de som e é o primeiro a recebê-lo no fim do show. Aquilo me mostrou tudo o que eu precisava saber sobre os dois”, relatou.

Interpretar um homem tão reservado exigiu outra postura. “Não sou um performer. Eu estudo até meus olhos caírem e tento reproduzir com precisão e verdade. Jon é interno, contido, e meu trabalho foi encontrar essa quietude sem transformá-la em passividade”, afirmou. Para Strong, esse silêncio é o coração do personagem. “Às vezes, o trabalho mais silencioso é o mais difícil. Há uma luminosidade espiritual nele, algo que me lembrou o Pete Seeger de Edward Norton em Um Completo Desconhecido. É devoção pura.”

O ator também vê na relação de Landau com Springsteen um ato de entrega. “Ele renunciou a parte do próprio ego para servir à música. Quando você chega até Jon, encontra uma placa que aponta para Bruce. É disso que se trata. Ele colocou tudo o que tinha em serviço da arte e isso é profundamente espiritual”, observou.

Strong acredita que a parceria entre os dois ajudou a definir não apenas um som, mas uma ética artística. “Jon foi quem apresentou a Bruce autores como Flannery O’Connor e Steinbeck. Eles moldaram o olhar de Bruce sobre o país, essa distância entre o sonho americano e a realidade americana. Hoje, talvez, essa distância seja ainda maior, mas Bruce ainda acredita que esses ideais valem a pena”, refletiu.

Ao fim da conversa, Strong voltou à essência do que, para ele, Salve-me do Desconhecido realmente captura: “Bruce é o chefe, mas Jon é o rei. Ele rege esse universo com empatia, fé e disciplina. A história dos dois é sobre compromisso, sobre acreditar em algo maior do que si mesmo, e continuar acreditando, mesmo quando o mundo parece esquecer o porquê.”

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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