Crítica | Outras metragens

Tuna Tartare

Da cartela para os palcos

(Tune Tartare, EUA, 2025)
Nota  
  • Gênero: Animação
  • Direção: Tune Tartare
  • Roteiro: Tune Tartare
  • Duração: 15 minutos

Na era digital em que mascotes esquecidos voltam à tona como memes, surge Tuna Tartare, a fadinha que habitava as cartelas de karaokê dos anos 1990, em uma animação que leva o seu nome. A personagem, renascida em um curta dirigido por Lena Greene, ganha uma aventura só sua marcada por absurdos visuais e encontros inusitados com bolsas falsificadas e luvas de cacto. O resultado é um universo tão improvável quanto familiar, como se a nostalgia viesse disfarçada de delírio animado.

O choque entre memória e invenção é curioso, e desperta o interesse de quem assiste ao filme. Há uma aproximação rápida quando se reconhece a fadinha que habitava o limbo do karaokê e, de repente, está ali reencarnada em figura central, deslocada, excêntrica, quase grotesca. Greene brinca com o imaginário kitsch, transformando a nostalgia em experiência de humor nonsense. A piada funciona no impacto inicial, naquele riso de surpresa que surge do “eu já vi isso antes”, mas também na forma como a obra vai torcendo a familiaridade até o limite do absurdo.

Tuna Tartare sabe brincar com a ideia de reapropriação cultural e afetiva. Aquela personagem que parecia fadada ao esquecimento, restrita às memórias dispersas de noites de cantoria, se transforma em guia de uma jornada surreal. O humor, às vezes exagerado, aposta no estranhamento. Tuna atravessa situações banais e fantásticas, sempre com ares de quem nunca perdeu a vocação para o entretenimento.

Visualmente, o curta aposta na contradição entre o trivial e o fantástico. A estética carrega aquele ar de improviso digital, mas consciente de que quer transformar o exagero em espetáculo. A aparição da fadinha vira performance, e os enquadramentos investem em destacá-la como se fosse uma celebridade reencontrada, a estrela oculta da cultura pop que agora recebe seus quinze minutos de fama.

Há momentos em que o ritmo se alonga e a graça perde força, mas isso não anula a curiosidade despertada pela proposta. O caráter surreal é reforçado a todo instante e são muitas as camada de ironia, como se o filme assumisse de vez que não precisa de lógica para criar laços com o público. Além do frescor, fica claro que é legítimo rir do absurdo.

O resultado é uma experiência curiosa e divertida, mais pelo jogo que propõe do que pelo destino a que chega. Tuna Tartare lembra que a arte também pode ser pura brincadeira, mas sem perder a força ao trazer afetos coletivos. A fadinha do karaokê, que parecia condenada ao esquecimento, retorna como um fantasma pop capaz de assombrar e entreter, ativando, com sua aventura inusitada, a memória de toda uma geração.

Um grande momento
Não está me reconhecendo?

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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