As primeiras cenas de Twinless insinuam o caminho para o drama familiar com todos reunidos em um cemitério para se despedir de Rock, que morreu atropelado. Caixão, flores e lágrimas contidas trazem tudo aquilo que já vimos tantas vezes. A tragédia, porém, vai logo dando lugar a um estranhamento com logo nos cumprimentos. Alguma coisa ali, vai destoar e logo percebemos que o filme não vai se contentar em ser mais um tratado sobre luto. Na inquietação do jeito como James Sweeney filma e constrói seu longa está uma história sobre a perda de um irmão gêmeo, mas especificamente sobre a perda de si mesmo quando esse outro, que é metade da sua identidade, deixa de existir.
A ideia de é provocativa na forma e no conteúdo. Assinando direção, roteiro e ainda protagonizando o filme como Dennis, um gay de ironia venenosa e bom timing cômico, ele costura uma história que se recusa a ser quadrada. É tragicômica, thriller, comentário sobre masculinidade tóxica e até um bromance reverso, Twinless é tudo ao mesmo tempo. Ao seu lado, em contraponto, está Dylan O’Brien, astro teen de Teen Wolf e Maze Runner que acabou marcado pelo papel e subestimado pela indústria. Ele vive dois gêmeos opostos: Rocky é todo extroversão, humor ácido e carisma natural, enquanto Roman carrega aquele vazio silencioso que se transforma em raiva.
Além das atuações, Twinless se define pelo desconforto que provoca, sem deixar de ter um humor muito específico. A montagem nervosa, a trilha minimalista de Jung Jae-il, os closes opressivos criam uma atmosfera onde tudo parece prestes a explodir. Sweeney sabe trabalhar com essa angústia, e usa isso para escancarar as contradições da masculinidade, a solidão queer e a ilusão da autossuficiência. Em certo momento o filme parece flertar com o suspense, em outro pisa fundo na comédia, mas, no fundo, o que ele constrói é uma daquelas experiências difíceis de rotular.
Mesmo que algumas soluções funcionem mais pela surpresa – nem tão surpreendente assim – do que pela coerência narrativa, Twinless mantém sua energia. Ele não quer agradar, quer cutucar. E se na superfície é sobre luto, nas entrelinhas é sobre a necessidade desesperada de encontrar o seu lugar no mundo, mesmo quando tudo o que resta é uma versão deturpada desse pertencimento.
Um grande momento
Eu sou o Roman