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Um Lugar Silencioso: Dia Um

Uma atriz que doma o silêncio

(A Quiet Place: Day One , EUA, 2024)
Nota  
  • Gênero: Suspense, Terror
  • Direção: Michael Sarnoski
  • Roteiro: Michael Sarnoski, Joseph Krasinski
  • Elenco: Lupita Nyong'o, Joseph Quinn, Alex Wolff, Djimon Hounsou
  • Duração: 96 minutos

Antes da metade de Um Lugar Silencioso: Parte II, o espectador já se perguntava se tudo que estava sendo veiculado na narrativa era necessário, ou se estávamos diante de um produto que tinha ido longe demais na tentativa do estúdio em criar uma nova franquia. Em 2018, o ator e cineasta John Krasinski lançou um projeto pessoal quase com pinta de filme independente, co-protagonizado por sua esposa Emily Blunt, e que viu os 17 milhões gastos na produção transformar-se em uma montanha de 340 milhões de dólares. Era fácil saber que Um Lugar Silencioso teria uma continuação quase tão rentável quanto, o que não se imaginava era que em 2024 estaríamos aqui diante de Um Lugar Silencioso: Dia Um, a confirmação de que trata-se de uma franquia – hoje, já sem Krasinski na direção. 

A essa altura, Um Lugar Silencioso: Dia Um parece comunicar-se com Bird Box: Barcelona no que tais projetos parecem mirar, hoje. Sem ter para onde correr, a ideia de observar a chegada original à Terra do que serão os algozes da humanidade parecia interessante, se esse recurso não tivesse sido usado na sequência inicial da continuação. Sendo maldoso, podemos chamar essa terceira incursão no universo desse prólogo, esticado para caber em um longa. Na prática, estamos diante de um novo grupo de personagens lidando com o mesmo que a família do primeiro filme precisava lidar, com as particularidades de seus novos tipos explorada. Ou seja, isso pode ser feito até o espectador gritar e dizer que não quer nunca mais essa reciclagem, o que ainda não aconteceu dessa vez: a bilheteria vai chegar na casa dos 300 milhões de novo. 

Diante desse quadro de repetição – ainda que seja uma repetição muito divertida – a saída é mesmo contar com a boa vontade da criação de uma boa base para que o filme não se torne refém dos eventos fantásticos. A escolha é acertada em também nesse quesito não deixar a coerência de lado, e investir em um novo núcleo de poder realçado para que o drama do que está sendo vivido antes da ruptura seja sedutor, como no primeiro Cloverfield. Esse universo à parte é quase unitário, quando Samira é tão figura única e mantenedora de um manancial de carisma e talento chamado Lupita Nyong’o (Oscar por 12 Anos de Escravidão). Em determinado momento fica claro o porquê de valer a pena continuar acompanhando aquela jornada, e isso é representado por esse personagem e o arcabouço criado para ela. 

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O posto de diretor e roteirista cai no colo de Michael Sarnoski, do belo Pig. A escolha foi acertada, levando em consideração que a grande carta na manga de Um Lugar Silencioso: Dia Um é sua narrativa paralela. Já que não há mais algo a ser descoberto a respeito da invasão (e o filme comete o acerto supremo de continuar deixando tudo enevoado) ou de uma situação posterior – que creio deverá ser a próxima investida, e acho que o interesse começa a ruir por aí – faz sentido que o filme se interesse por quem move o roteiro. Se estamos diante de algo tão magnético quanto o talento de Nyong’o então, convém criar algo para que a estrela possa entregar material tão complexo quanto ela é capaz. E quem viu Nós, sabe do quanto ela é imensamente capaz. 

Se sua trama nunca tenta ser outra coisa que não clichê, é a própria Nyong’o que fará tudo fazer sentido na frente das câmeras. Então vamos a verdade: Um Lugar Silencioso: Dia Um merece ser visto exclusivamente pela sua presença em cena. Acredite, mais uma vez isso não é pouco, e pode ser preponderante na cabeça dos produtores de cinema quando ao tentar enquadrá-la, de uma próxima vez. Essa é uma plataforma não apenas de seu talento, mas uma espécie de mostruário do talento de uma atriz, de sua capacidade de hipnotizar o público, e do dom para incorporar o que for necessário para completar o seu quadro de alta magnitude. Sua química com Joseph Quinn é bastante feliz, e seguimos acompanhando os passos de sua personagem sempre com o máximo de interesse, porque ela nos convida a não desistir, e nós seguimos como súditos atrás de uma majestade da atuação. 

Um grande momento
Marionetes

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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