Crítica | Outras metragens

Uma Mulher no Mar

(Une femme à la mer, FRA, 2022)
Nota  
  • Gênero: Ficção
  • Direção: Céline Baril
  • Roteiro: Céline Baril, Pauline Ouvrard
  • Elenco: Louise Chevillotte, Bastien Bouillon, Ushan Çakir, Gülkadin Kokdurmus
  • Duração: 34 minutos

Só sinto no ar o momento 
Em que o copo está cheio 
E que já não dá mais
Pra engolir​

Grito de Alerta – Gonzaguinha

Símbolo de imensidão, é comum encontrarmos o mar associado a situações de contraste ao aprisionamento afetivo. O elemento diverso permite interações diversas com um mesmo corpo-elemento, seus perigos e ameaças têm conotação dúbia e há inclusive toda uma gama de possibilidade de associações que vão do mais humano a possibilidades místicas. É nesse espaço que conhecemos Anna, a protagonista de Uma Mulher no Mar prestes a se redescobrir e se libertar.

O curta de Céline Baril não quer ser direto e nem óbvio, mas é fácil compreender aquilo que está em suas entrelinhas. Aquela mulher está deslocada, presa em um lugar que não gostaria de estar. O desespero do sonho e de outros atos mostram que o desejo é apenas do afastamento, e a insistência na distância, do caminhar ou mesmo de uma busca frenética, que não há mais como ficar.

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A diretora acerta ao começar o filme de forma tão impactante e fazer com que essa imagem esteja tão forte e viva durante todo o desenrolar da trama, relembrando-a inclusive com situação semelhante. São muitas posturas e intervenções, inclusive externas ao casal, que confirmam o inevitável e a situação daquela mulher ali representados talvez entre o prenúncio, que no fim não se concretiza, e o desejo.

E é interessante como Uma Mulher no Mar encontra espaço para que Anna se afaste da situação para melhor entendê-la, ainda que num lugar estranho, fazendo algo que pode não fazer sentido, expondo-se ao risco e olhando para si. Por trás de um desaparecimento e a jornada de busca, o roteiro de Baril e Pauline Ouvrard traça toda a trajetória de ruptura com o que está estabelecido em uma existência.

Por mais que se torne literal em seus encontros, a capacidade de metaforização e o bom uso dos signos faz com que Uma Mulher no Mar seja uma grande experiência. Destaque para a fotografia estonteante de Julia Mingo, de Regresso a Reims (Fragmentos), que transita entre os elementos e ambientes tornando-os chaves para definir os sentimentos, e para a atuação de Louise Chevillotte, discreta, mas contundente como uma mulher em seu limite.

Um grande momento
O sonho

[13º MyFrenchFilmFestival]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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