Crítica | CinemaDestaque

Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2

Avanços inalterados

(Winnie the Pooh: Blood and Honey 2, RUN, 2024)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Rhys Frake-Waterfield
  • Roteiro: Rhys Frake-Waterfield, Matt Leslie, A. A. Milne
  • Elenco: Scott Chambers, Tallulah Evans, Ryan Oliva, Lewis Santer, Marcus Massey, Peter DeSouza, Thea Evans
  • Duração: 96 minutos

Uma enxurrada de comentários próximos a estreia de Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2 garantiam que a má qualidade (ou horrenda) do anterior teria ficado inteiramente por lá. Vencedor dos principais prêmios no Framboesa de Ouro desse ano, raras foram as vezes recentes que um filme mereceu tanto o lugar de achincalhe que lhe foi imposto quanto Ursinho Pooh: Sangue e Mel. Infame até cansar e desprovido de méritos durante toda sua duração, seria fácil produzir um filme melhor que aquele: era só existir. Então foi feito, e creio que não era possível um filme pior que a primeira parte; a prova é sua continuação. Isso não significa que estamos diante de um filme digno, mas também a qualidade de verdade ainda não apareceu na franquia. Ainda muito fraco, as aventuras sanguinárias de Pooh e seus amigos mostra que o apreço pelo amadorismo subiu um degrau da escada, se tudo isso. 

Não tem a ver necessariamente com o cinema trash não poder ser apreciado pela crítica de cinema, mas com as impossibilidades que Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2 cria para si diante não do que deveria ter, mas do que de fato é. Não é uma exigência de que o “premiado” Rhys Frake-Waterfield criasse algo à altura do que seriam as normas do “bom cinema” (isso é uma bobagem de debate; não existe bom ou mau cinema), mas que a lógica interna da produção funcionasse. Essa é a primeira coisa abolida nas duas produções, porque tudo gira em torno das métricas da necessidade momentânea, que movem a cadeia de eventos de um lado para outro. Não há muita vontade de trazer coerência para a narrativa, e isso sim é algo que precisa ser cobrado de um filme. 

Frake-Waterfield é um desses tipos que veio ao mundo pela diversão. Ele já dirigiu um desses derivados de Sharknado, um outro título onde monstros caem do céu (Sky Monster) e vai seguir nessa toada, porque Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2 termina com uma porta escancarada para continuação, que já está cadastrada no imdb. A impressão que se tem, de verdade, é que não há qualquer compromisso com a qualidade propriamente dita aqui, inclusive acredito que exista uma busca real por manter-se tosco, mantendo-se nessa fronteira com o mau gosto. A essa altura do campeonato, é essa propaganda da zueira que vai manter o interesse pela franquia, e continuar trazendo o diretor uma vez por ano para apresentar seus novos personagens. 

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Só que a crítica não pode se dobrar a esses desígnios e começar a encontrar charme em algo que é só um filme narrativamente cheio de situações incongruentes. Não há como olhar para esse campo e enxergar apenas o nonsense da situação, que é bem empregado em meio ao absurdo do todo. Como já dito, não se trata de buscar o que não existe aqui; não há mesmo espaço para o comedimento de situações. Tudo é muito agudo e estridente, com seus efeitos práticos de quinta categoria, com uma maquiagem ruim nas criaturas e cheia de amadorismo quando se trata do sangue, puro. Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2 é uma produção verdadeiramente desinteressada em agradar os puristas da cinefilia, e esse é um ponto que acho estranhamente positivo. 

O problema é a estruturação de uma obra cinematográfica, em seu olhar mais profundo. Se estivéssemos falando de uma produção anárquica, isso poderia ser relevado, mas até essa característica parece controlada. O filme só lança os elementos na tela, sem preparação narrativa, mudando todo o conceito de vez em quando dependendo da conveniência, se colocando de maneira desagradável de assistir. Ninguém tem um mínimo de carisma, e só o trabalho de Scott Chambers tem interesse em aprofundar suas questões. Mas nada ao seu redor ajuda, e Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2 parece mais sugestionado a tentar não involuir ainda mais, diante de tantas tentativas bem sucedidas nesse sentido. 

Existe uma indecisão na maneira como esses filmes se colocam no mundo. O primeiro era altamente machista, com cargas de misoginia quase inaceitáveis; nesse segundo, essa escala é bem menor, mas ainda não se trata de uma produção que fuja disso. Essa é uma das medidas que tentam ser mitigadas em Ursinho Pooh: Sangue e Mel 2, mas é muito pouco diante de tamanha falta de coerência narrativa. Sim, existe mais orçamento, com isso os valores de produção se mostram um pouco mais eficientes, mas é o roteiro dos filmes o seu maior problema. Como a direção não consegue resolver imageticamente suas deficiências, seguimos assistindo filmes que poderiam ser toscos só esteticamente, e não veem o menor problema de esticar a corda em todos os quesitos. Nenhuma homenagem a O Massacre da Serra Elétrica o coloca no mesmo patamar que a obra-prima de Tobe Hopper, nem mostra que o cinema de terror radical é sustentado por qualquer coisa. 

Um grande momento

A abertura em animação

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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