Crítica | Streaming e VoD

Vingança Solitária

Por sua conta e risco

(Army of One , EUA, 2020)
Nota  
  • Gênero: Aventura, Suspense
  • Direção: Stephen Durhan
  • Roteiro: Mary Ann Barnes, Ellen Hollman, David Dittlinger, Stephen Durhan
  • Elenco: Ellen Hollman, Geraldine Singer, Matt Passmore, Stephen Dunlevy, Kendra Carelli, Gary Kasper, Niko Foster
  • Duração: 85 minutos

Existem aqueles momentos em que o crítico de cinema se pega perguntando a si: será que eu sou tão chato quanto parece? Nos primeiros 5 minutos (sim, você leu certo – CINCO minutos!) de Vingança Solitária, o inexplicável novo sucesso da Netflix, já aconteceu: dublagem mal feita que entrega a captação de aúdio ruim, personagens malvados com máscara de animais tal qual o “clássico” oitentista A Fortaleza, a absoluta falta de química do casal – a princípio – protagonista, um doidão também saído do anos 80 assediando uma mulher aos berros. Infelizmente as máscaras não retornam, mas o doidão sim e a tragédia do áudio também, até o final. Ao final dos 85 minutos, o filme de Stephen Durhan me provou que sou bem mais bonzinho e compreensivo do que me taxam. 

Uma dessas produções quase caseiras de tão mequetrefes, Vingança Solitária acompanha a saga de Brenner, uma moça sequestrada por um desses grupos de sádicos de cidadezinha do interior de cinema americano, que tem o marido assassinado e é abandonada à espera da morte em uma vala comum. Ninguém sabe que a mocinha é uma agente altamente treinada e que vai matar um a um em busca da tal vingança, e também ela não sabe que está desbaratando uma quadrilha ligada a um cartel de drogas. A trama bem básica poderia render um filme protagonizado por Halle Berry que fizesse um tanto de bilheteria, mas estamos de algo verdadeiramente indizível, daqueles que só vendo pra crer. 

Não há qualquer mínimo apuro estético ou narrativo ao que assistimos, a chance de estarmos diante de um verdadeiro grupo de amadores completamente desprovidos de qualquer talento (ou discernimento) é grande. Várias passagens conduzem às gargalhadas involuntárias, como a chegada no bar de beira de estrada onde um personagem avisa que conduzirá os clientes até a melhor mesa e fica literalmente perdido no meio do salão, mas aos poucos a imensa piada que é Vingança Solitária começa a perder essa aura de chacota. O próximo passo é se tornar apenas um filme sem qualquer atrativo mínimo para que seja justificado que estejamos na frente da tv em busca de um sentido para tanto despautério. 

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Isso acontece quando, depois da metade da “obra”, percebemos que não havia sequer um planejamento de elenco prévio. O que isso significa? O filme nos apresenta a um grupo de vilões, que simplesmente é inteiramente morto nos primeiros 40 minutos. A saída é providenciar um novo grupo, que o espectador não tem qualquer laço de saída. Não estou dizendo que substituíram Daniel Day-Lewis por Roberto Benigni, mas é muito mais simples que isso. Vingança Solitária trai a confiança do espectador ao deixá-lo à mercê do nada, e promover a entrada de um novo grupo em cena sem qualquer outro propósito que não o de morrer também. Mesmo em caso de deficiência extrema de produção, o espectador não pode ser tratado com o descaso que é aqui. 

Tudo é muito escasso em méritos, ou em condições normais de trabalho, onde se espera uma base mínima de qualidade na estrutura. Não há. Cena após cenas, Vingança Solitária nos demonstra que o fundo do poço não existe, e sempre pode ficar pior. Um elenco inclassificável, coreografias absurdas, decupagem inexistente, um acúmulo de cenas que se dividem entre: ridículas, mal filmadas, canhestras, sem sentido – na verdade, não há qualquer cena da produção que não seja uma dessas coisas, ou todas elas. Temos a real impressão de que o filme de Durhan não deixa qualquer um dos piores filmes que já assistimos na vida sequer consegue se aproximar do que é conseguido aqui.

Esse é o saldo final da produção: temos a impressão de que não há qualquer seriedade em cena, tendo em vista que até figuração rindo pra câmera em cenas ditas sérias temos. Dessa forma, não há qualquer condição real de embarcar na proposta, caso seja realmente uma proposta; é tudo muito mambembe em todos os aspectos para onde se olha. E pensar que esse roteiro risível foi desenvolvido por quatro pessoas, é mais uma prova de que as intenções eram apenas o de nos transformar em cobaias para experimentos radioativos. Ao término da sessão de Vingança Solitária, seria o caso de um teste para detectar os graus de veneno que podem ter entrado em nossa corrente sanguínea, com o absoluto conhecimento dos produtores e sua anuência diante de um perigo tão evidente. 

E vocês acreditam que ainda somos “ameaçados” com o possível início de uma saga com mais capítulos? 

Um grande momento

Saber que terminou

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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