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Winter on Fire

(Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom, GBR/UKR/EUA, 2015)

Documentário
Direção: Evgeny Afineevsky
Duração: 102 min.
Nota: 7 ★★★★★★★☆☆☆

No final do ano de 2013, menos de dez anos depois da última manifestação popular no mesmo local, a Praça da Liberdade em Kiev foi ocupada mais uma vez. Os manifestantes chegavam aos poucos, mas milhares estiveram presentes para protestar contra o presidente Viktor Yanukovich por ele não ter assinado o termo de adesão à União Europeia e, pelo contrário, ter feito acordos com a Rússia.

O ato pacífico durou alguns dias, até que a Berkut, espécie de polícia militar que existia até então, recebeu a ordem de esvaziar a praça de maneira violenta e a executou. Deixando vários jovens feridos, a ofensiva chocou o país, e trouxe à manifestação – que durou mais de 90 dias – um número muito maior de pessoas, vindas de todos os lugares da Ucrânia.

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O conflito, que já esteve nas telas retratado por Sergey Loznitsa em Maidan, assume aqui uma característica mais incisiva, mais interior aos acontecimentos. O diretor Evgeny Afineevsky usa material de tantas câmeras espalhadas pela praça – são 24 nomes nos créditos do filme -, que consegue retratar o evento com uma proximidade ímpar.

Com a montagem interessante de Will Znidaric, que mescla imagens da manifestação a entrevistas posteriores com participantes da ocupação e apoiadores da causa, Winter on Fire, produzido pela Netflix, realmente coloca o espectador dentro da manifestação. Dentro do lado que ele escolhe, é bom frisar, já que o documentário não se alonga em explicações sobre o outro lado. É como se ele escolhesse um recorte muito específico: filmar os ocupantes da Praça da Liberdade e tentar entender seus motivos, mas sem deixar de se partidarizar com a causa.

O que seria um problema acaba ganhando força com as imagens e com a história contada. A revolta da população com a agressão sofrida pelos estudantes que primeiro chegaram na praça leva ao local líderes religiosos, idosos, militares da reserva, famílias inteiras. Não tem como não se impressionar com a união daquele povo que, em nome de uma ideologia, consegue reunir em um mesmo local pessoas de lugares tão diferentes e que sequer falam a mesma língua.

Há passagens realmente emocionantes, como quando, após vários conflitos violentos com a polícia, com uso de bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e balas de borracha, a população resolve formar um paredão humano para que a Berkut não entre na praça. Ao mesmo tempo, todos os sinos da igreja de São Miguel, próxima a praça começam a tocar, e, como lembrado pelo sineiro, a última vez em que todos tocaram foi em 1240, quando os tártaro-mongóis invadiram Kiev.

Outras são inacreditáveis, como quando a polícia resolve abrir fogo contra os manifestantes, usando balas de verdade, metralhadoras e snipers em cima dos prédios, o que resultou em uma série de mortes.

Ainda que Winter on Fire seja um documentário sobre apenas um lado do conflito, o retrato dos dias de ocupação da Maidan é tão minucioso que faz do filme uma experiência interessante e que merece ser tida.

Um Grande Momento:
A barreira humana.

Oscar-logo2Oscar 2016 (indicações)
Melhor Documentário

Winter-on-fire_poster

Links

IMDb [youtube]http://www.youtube.com/watch?v=VaeFbmVAcTg[/youtube]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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