Drama
Direção: Marie-Sophie Chambon
Elenco: Laure Duchene, Angèle Metzger, Pauline Serieys, Zoé De Tarlé, Isabelle de Hertogh, Philippe Rebbot, Jonathan Lambert, Clémence Mérigot, Elise Havelange, Guillaume Verdier
Roteiro: Anaïs Carpita, Marie-Sophie Chambon
Duração: 88 min.
Nota: 8
Pressões gigantescas nos corações das grandes estrelas e as supernovas que se formam a partir de suas mortes, bilhões de anos atrás, geraram partículas, matéria química que viria a dar origem a vida em planetas como a Terra. Esse processo cíclico de originação e fim permeia o Cosmos e em 100 Quilos de Estrelas, os mistérios e esplendor do espaço são o pano de fundo poético para um filme escapista e profundamente sensível acerca da adolescência.
Estreando na direção de longas, a roteirista Marie-Sophie Chambon (que co-escreveu o também excelente Assim que Abro Meus Olhos, de Leyla Bouzid) desenvolve o argumento – em colaboração com Anais Carpita – se debruçando com especial ênfase sobre a personagem de Lois, menina obesa que sonha em ser astronauta. Ela é um prodígio em física e matemática mas se fecha num casulo, não sendo capaz de interagir com outras pessoas da sua idade até por estar focada em um objetivo: quer participar de um concurso do Centro Nacional de Estudos Espaciais da França, vencer e ganhar como prêmio um voo em gravidade zero.
A jornada que Chambon então traça para que sua heroína acima do peso – a exemplo da fofa Pequena Miss Sunshine – possa realizar o sonho é somar forças com outras meninas enjeitadas pela sociedade. Ela encontra o grupo perfeito na clínica psiquiátrica para onde foi enviada pelos pais após desmaiar por passar fome. Lá, a andrógina e bulímica Amélie, a paraplégica Stannah e a eletrossensível Jocelyne formam um laço com Lois. Em fuga, elas passam por uma caverna onde “não há risco de contrair câncer por meio das ondas do wi-fi”, roubam a atendente de um hotel, enfrentam grupos de competidores (todos homens) para, correndo contra o tempo, finalizar e apresentar o projeto do purificador de ar.
Intempéries surgem, alimentadas pelas diferenças de personalidade e a interferência dos pais delas. Um meteoro risca o céu para ilustrar o momento em que Lois se permite flutuar pelo espaço, representado em mis en scène, por meio da câmera de Amélie. O céu brilha de estrelas surgindo e se apagando enquanto elas flutuam pelo infinito, projetando sonhos inalcançáveis. A projeção de suas finitudes corre ao largo da constatação de uma força interior esmagadora.
A narrativa costura-se de uma forma ainda que escapista (e com algumas soluções que não chegam a ser inverossímeis mas não deixam de ser golpes de sorte), mas nunca descolada de uma realidade cheia de frustrações que moldam a identidade adulta. Trata dos preconceitos, como a gordofobia, de uma maneira poucas vezes vista, sem tanta tristeza. Um coming of age melancólico e esperançoso, 100 Quilos de Estrelas é um pequeno grande filme sobre rebeldia e gana de perseguir seus sonhos.
Realizado e protagonizado por mulheres, estreou no último Festival de Cannes na seleção Ecrã Juniors, passou no Festival do Rio também em 2019..
Um Grande Momento:
“Eu sou Júpiter e peso 250 kg”.
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