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Verdade e Honra

Quando o pelotão é mais brilhante

(The Last Full Measure, EUA, 2019)

  • Gênero: Guerra
  • Direção: Todd Robinson
  • Roteiro: Todd Robinson
  • Elenco: Sebastian Stan , Alison Sudol, Asher Miles Fallica, LisaGay Hamilton, Bradley Whitford, William Hurt, Linus Roache, Jeremy Irvine, Eoin O'Brien, Christopher Plummer, Diane Ladd, Samuel L. Jackson, Jordan Preston Carter, Amy Madigan, Peter Fonda, Ed Harris, John Savage
  • Duração: 116 minutos
  • Nota:

Em determinado momento de Verdade e Honra, o filho do protagonista pergunta a seu pai: “papai, você quer que eu seja soldado?”. A escolha do filme por fazer o personagem não responder a pergunta e nem retomar esse assunto posteriormente dá a deixa de como os Estados Unidos da América ainda tem uma relação ambígua com a guerra e os sacrifícios feitos em nome da mesma. A qualquer ser humano é apavorante a possibilidade de perder um ente querido em conflitos nos quais muitas vezes não são chamados; culturalmente, nos EUA ainda há uma base que glorifica o conflito armado e as perdas são encaradas como fatalidades esperadas, infelizmente.

Ainda que o filme escrito e dirigido por Todd Robinson não necessariamente erga as mãos em agradecimento à mortes e ao sangue derramado tantas vezes, a decisão de não pregar absolutamente contra o faz omisso de diversas formas, e aí independente da lógica humanista, o que assistimos é mais uma reprodução sobre os horrores dos campos de batalha onde precisamos apontar um herói, como se houvesse alguma “honra”, “heroísmo” e “coragem” em salvar homens matando outros no quintal alheio – no caso aqui, é o Vietnã o palco da narrativa inspirada em eventos reais que se desenrolaram por quase 35 anos.

Verdade e Honra

Uma bela dose de melodrama onde cada um dos personagens acessados parece uma bomba prestes a explodir, Verdade e Honra não é tão focado nas ações que serão investigadas mas principalmente nas consequências contemporâneas à elas, onde os personagens já envelhecidos recordam fatias do passado para montar um mosaico ao encarregado da investigação a respeito de uma outorga de medalha de honra póstuma, e que levam esse encarregado a abandonar gradativamente o pragmatismo e se envolver emocionalmente com uma realidade que, além de não ser a dele, pode fazer ruir a própria – ele pode ter a ficha profissional manchada se enfrentar as Forças Armadas americanas, que quer enterrar o caso.

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Há suavidade no tratamento de elementos tão recorrentes, mas o filme não sai da seara esperada. Como Robinson não é estreante porém tampouco não demonstrou anteriormente habilidades que o revelassem positivamente, o filme acaba não tendo uma abordagem interessante, diferenciada ou nova sobre um tema que o cinema já abordou outras vezes. Sem coragem de abraçar o desprezo pela guerra, também não a exalta e acaba com isso parecendo com tantos produtos genéricos colocados a disposição do público há anos; talvez por isso seja um filme que vagou por quase dois anos no circuito até estrear em janeiro sem barulho, mas com um texto que somente um elenco fabuloso poderia dizê-lo com alguma classe.

Verdade e Honra

E é exatamente isso que, sabe-se lá como, Robinson conseguiu reunir. Não apenas um grande elenco, como um elenco disposto a mostrar trabalho, que não está ligado em piloto automático e que acaba por se tornar o ponto fora da curva do projeto. Quando foi a última vez que o cinema uniu William Hurt, Samuel L. Jackson, Christopher Plummer, Ed Harris, Diane Ladd, o saudoso Peter Fonda, John Savage, Amy Madigan e (perto desse time, um fedelho) Sebastian Stan? O filme não deixa nenhum deles sem uma grande cena – alguns, até mais de uma – e é impossível enumerar a ordem qualitativa de um grupo tão dedicado e comprometido, que eleva um material a cada momento.

É essa montanha de talento que acaba por justificar um filme cujo mote e realização nunca conseguem sair do lugar comum mas que, bizarramente produzido por 17 pessoas (sim, DEZESSETE!), encontra em rostos conhecidos mais do que um desfile de talentos de outrora, e sim um grupo de atores que não estão nas grandes listas de convites mas que ainda definem um projeto. E no acender das luzes do início de uma temporada de premiação, fica a dúvida: porque é “extremamente necessário” o reconhecimento póstumo de alguém tão jovem e que infelizmente nos deixou sem provar suas capacidades como Chadwick Boseman, enquanto Peter Fonda não obtém o mesmo crédito? Talvez Verdade e Honra, em suas entrelinhas, também fale sobre o descaso de reconhecer a voz de veteranos, soterrados pela juventude.

Um grande momento
À noite com Jimmy

Ver Verdade e Honra no Telecine

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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