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Simplesmente Feliz

(Happy-Go-Lucky, GBR, 2008)

Drama

Direção: Mike Leigh

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Elenco: Sally Hawkins, Alexis Zegerman, Eddie Marsan, Andrea Riseborough, Sinead Matthews, Kate O’Flynn, Sarah Niles, Nonso Anozie

Roteiro: Mike Leigh

Duração: 118 min.

Minha nota: 7/10

Confesso que quando fui assistir a Simplesmente Feliz não estava esperando grandes coisas pois não sou muito chegada em filmes bonitinhos que explorem personagens que sempre estão felizes. Já entro no cinema de cara amarrada e saio com raiva de ter perdido meu tempo.

Claro que é impossível não lembrar de Pollyana, um antigo e fraco clássico da literatura adolescente de tempos passados, e de sua irritante mania de sempre ver as situações e as pessoas pelo seu lado positivo. Mas o filme é muito mais do que isso no final das contas.

A maneira de Poppy, a Pollyana balzaquiana perfeitamente interpretada por Sally Hawkins, encarar a sua solidão e as mazelas de todos que a cercam acaba conquistando quem acompanha a história e, mesmo que ela irrite um pouco ou muito quem vê o filme, cria um laço entre o espectador e a protagonista.

O oposto de Poppy aparece na figura de Scott (também maravilhosamente interpretado por Eddie Marsan) um descompensado e infeliz instrutor de auto-escola que só consegue enxergar o que de negativo exite no mundo. As outras pessoas que cercam a personagens estão mais próximas do mundo real, mas têm muita dificuldade em compreender o modo de vida escolhido por ela.

Logo depois de O Segredo de Vera Drake, Mike Leigh chega com um filme bem diferente em suas falas, cores e personagens, mas com uma mulher que demonstra sua força ao decidir encarar a vida de uma maneira e consegue ter muito mais sucesso do que a dos outros que ficam se lamentando.

Em meio a muitas idas e vindas entre tantos sentimentos complexos e diferentes, o filme vai se moldando, faz com que as cores do mundo de Poppy se choquem com a realidade cinzenta de Londres e acaba trazendo para o nosso mundo essa contradição.

Para a criação de um universo tão diferente do que estamos sempre acostumados a ver, a música de Gary Yershon e o figurino da excelente Jacqueline Durran foram fundamentais. Assim como a discreta porém marcante interpretação de Sally Hawkins.

Muitos não se sentiram bem com essa intromissão de Mike Leigh em suas vidas, outros tentaram criar teorias sobre a felicidade mostrada e outros ainda não conseguiram sobreviver à irritação causada pelo sorriso e desistiram de ver o filme.

E no final de tudo ele vale, principalmente, por todas as sensações que ele deixa depois que acaba. No meu caso, mesmo sem notar, um sorriso ficou insistindo em aparecer na minha boca, mas junto com ele veio uma certeza maior de que a infelicidade está muito mais presente na vida de todos nós.

Bom para pensar e tentar ser feliz!

Um Grande Momento

O limite.


Prêmios e indicações
(as categorias premiadas estão em negrito)

Oscar: Roteiro Original

Festival de Berlim: Urso de Ouro, Urso de Prata – Melhor Atriz (Sally Hawkins)

Globo de Ouro: Filme – Comédia ou Musical, Atriz – Comédia ou Musical (Sally Hawkins)

Links

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.

Um Comentário

  1. Olá gente!

    Charles – Ah sim, a característica principal das mulheres retratadas por Mike Leigh está ali com todas as forças.
    Também fiz essa comparação com Almodóvar e é engraçado ver tanta cor em um filme passado em Londres, né?
    Mas alguma coisa foi demais para mim, sei lá.

    Filipe – É bem diferente de Vera Drake, mas mantém algumas semelhanças. Acho que você pode gostar.

    Jeff – Ela está realmente fantástica. O filme tem mesmo essa coisa de não agradar todo mundo. Ele é meio irritante!

    Kau – Acabei de falar para o Jeff. Ele irrita mesmo. Mas não acho Sally Hawkins forçada não. Ela está perfeita para o papel.

    Johnny – Eu acho que está mais para o que o Charles disse. Existe uma questão de sobrevivência em tudo aquilo, uma maneira de contrariar.
    A personagem é bem legal mesmo, mas tem muita gente que não gosta dela.

    Beijocas

  2. Acho o filme maravilhoso.
    O foco do filme não é a felicidade dela, mas sim de como é dificil aceitar a felicidade e ver que mesmo num mar de tristeza, ainda existe uma pessoa que carrega um sorrisão no rosto, como a Poppy.

    Mesmo não sendo um filme grandioso em aspecto tecnico, no final ele carrega uma positividade tão incrivel que é dificil ser feliz no dia de hoje …

    e além disso …

    EU AMO A POOOOOOOOOOOOOPPPPYYYY
    A rainha do ano!
    Abraços Ciça!

  3. Ciça, o filme me deixou bastante irritado. Nem me lmebro a nota que dei; acho que foi 6,5.

    Sally é forçadérrima, mas Eddie Marsan está extraordinário!

    Beijos!

  4. Achei pior que você, Cecília. Eu gostei da Poppy, mais por causa da Sally Hawkins que por qualquer outra coisa, mas não suportei o filme. Achei daqueles filmes chatos, entediantes mesmo. Dei 5,5.

    Beijos!

  5. Este filme tem sido amplamente elogiado pela crítica especializada. Gostei imenso da realização de Vera Drake. Espero vê-lo o quanto antes!

  6. Olá Cecília!

    Assisti não faz muito a Simplesmente Feliz. Apreciei o filme um pouco mais do que você. Não sei se porque me surpreendi com a mudança de ânimo do cavernoso Mike Leigh ou pelo simples fato de ser um filme agradável. A Sally Hawkins está demais. Ele é muito alto astral. Parece até uma personagem dos filmes do Almodovar. Como coloquei no meu blog, seu temperamento excessivamente positivo não é apenas espontâneo. Ele age daquela forma sobretudo por uma questão de sobrevivência. Num ambiente onde quase todo mundo é mal humorado ela prefere ser do contra e não se deixar afetar pelo insucesso dos outros. Parece coisa de livro de auto-ajuda, mas é o que eu penso da idéia do diretor quis passar…

    Grande Abraço!

  7. Opa! Esqueci de falar isso, Jeniss.

    O filme estréia na próxima sexta (27) nos cinemas brasileiros.

    Beijocas

  8. nem lembro se passou nos cines da cidade onde moro. de qualquer forma, vejo-o em DVD. dificilmente Mike Leigh decepciona.
    :)

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