Crítica | Festival

Canção de Baal

(Canção de Baal, BRA, 2008)

Ao ler o cartaz, o filme interessa. Baal foi a primeira peça escrita por Brecht, pensador e dramaturgo responsável por transformações do teatro e das técnicas de atuação. Conta a história de um cantor boêmio e casanova que conquista todas as mulheres que conhece e as abandona depois.

A curiosidade pelo filme aumenta ao ver que quem assina a direção é Helena Ignez. Musa de Glauber Rocha e Rogério Sganzerla, com quem fora casada, ela ficou conhecida por suas atuações em filmes como Pátio, Assalto ao Trem Pagador e O Bandido da Luz Vermelha.

Embora traga muitos elementos conservadores em seu conteúdo, o filme é revolucionário em sua forma. É um musical brechtianamente interpretado e cheio de liberdades visuais e sonoras. Tem de tudo um pouco ou de tudo muito, em alguns casos.

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Embora estejam prejudicadas pela falta de uma linha de direção definida, as atuações são inspiradas e Carlos Careqa sobra na tela como Baal e Einstein. Ao construir dois personagens tão diferentes em um mesmo filme, vemos toda a sua qualidade de atuação. Outros nomes que chamam atenção são o de Simone Spolidore, Beth Goulart e Djin Sganzerla, filha da diretora.

As músicas escolhidas para a trilha, algumas escritas pelo próprio Careqa, são ótimas e a direção de arte é impressionante. Assinada por Fábio Delduque, acompanhando o roteiro, cria um universo diferente e valoriza à mistura de elementos presente em todo o filme.

Assim como tem qualidades, o filme tem defeitos. A falta de uma direção mas consciente incomoda ao perder várias vezes o ritmo e prolongar planos desnecessariamente. Um pulso mais firme em algumas das cenas também ajudaria.

A fotografia, uma dobradinha entre Aloísio Raolino e André Guerreiro Lopes, embora seja linda, também é afetada por essa falta de linha diretiva e se a câmera na mão se justifica, é possível identificar mais de um enquadramento feito no susto, ao melhor estilo “olha aquilo, acho que pode ficar interessante”.Mas é um bom exercício de experimentação, embora não agrade a todos os públicos. Pessoas mais conservadoras vão se sentir ofendidas, quem tem labirintite vai sair tonto do cinema e os mais agitados vão achar a experiência chatérrima.

Um Grande Momento
Os primeiros minutos.

Musical
Direção: Helena Ignez
Elenco: Carlos Careqa, Felipe Kannenberg, Marcelo Drummond, Simone Spoladore, Beth Goulart, Djin Sganzerla
Roteiro: Helena Ignez
Duração: 77 min.
Minha nota: 4/10

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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