Direção: Pablo Larraín
Elenco: Gael García Bernal, Alfredo Castro, Néstor Cantillana, Antonia Zegers, Luis Gnecco, Alejandro Goic, Manuela Oyarzún, Diego Muñoz, Jaime Vadell, Marcial Tagle
Roteiro: Pedro Peirano
Duração: 97 min.
Nota: 8
(No, CHL/FRA/EUA, 2011)
Em 11 de setembro de 1973, ocorreu o mais atroz golpe de estado da América Latina. O chefe das Forças Armadas chilenas, Augusto Pinochet, ordenou que aviões bombardeassem o palácio do governo para destruí-lo e matar todos os ministros. Neste mesmo dia, o presidente socialista, eleito pelo voto popular, Salvador Allende morreu dentro do palácio. Ainda que haja controvérsias, a causa oficial da morte foi determinada como suicídio. Pinochet assumiu formalmente o cargo de chefe da nação, onde ficou por 17 longos e terríveis anos. Foram milhares de mortes, presos políticos torturados, demissões e uma estimativa de aproximadamente 50.000 desaparecidos.
Tanto medo, dor e insegurança, por tanto tempo, causaram danos irreparáveis psicológicos à população chilena. O diretor Pablo Larraín soube como traduzir isso nos filmes Tony Manero e Post Mortem e volta agora à história, para encerrá-la com No. A trilogia da violência, apatia e a negação é chocante, mas encontra no seu desfecho uma linguagem mais branda, ainda que tão chocante quanto a de antes, para tratar da atrocidade.
O momento retratado é o do plebiscito realizado por Pinochet que, pressionado pela comunidade internacional, consulta a população sobre a possibilidade de concorrer a um novo mandato. De um lado estão os articuladores da campanha do Sim, pela permanência do ditador, e de outro, os articuladores da campanha do Não, pela não recondução ao cargo
Aproveitando-se de imagens da época e tentando manter-se próximo a elas, Larraín gravou o filme em suporte para vídeo U-matic 3/4 e a montagem, de Andrea Chignoli e Catalina Marín Duarte, faz questão de deixa a impressão de que o filme é uma colagem de materiais de arquivo, mesmo aqueles que não são. O estranhamento inicial e um certo incômodo com o que se está pouco acostumado a ver cedem e dão espaço à empatia do público com os dois antagonistas, René Saavedra, marqueteiro da campanha do Não, e Lucho Guzmán, da campanha do Sim e ao envolvimento com o que está sendo contado.
O diretor segue a tradição de personalizar a situação, aqui com o dedicado René, publicitário recém-chegado ao Chile depois de anos no exílio, que vive com seu filho e tem uma relação diferente da usual com a mãe dele. Ele aceita trabalhar na campanha do Não, tentando trazendo a ela a mesma modernidade que impõe nos anúncios de refrigerante e de novelas que prepara para a agência do marqueteiro chefe da campanha adversária. Gael García Bernal se entrega completamente ao papel e convence desde o primeiro momento até o último. E está muito bem acompanhado de Alfredo Castro.
Recriação sutil e importante de um momento marcante na história do Chile e de toda a América Latina, assim como seus dois filmes antecessores, No vem para encerrar um capítulo que nunca deveria ter acontecido, mas que não deve ser jamais esquecido. E que bom que Larraín resolveu contá-lo. A maneira pode não ser a mais amena, mas é única na percepção das marcas deixadas nos envolvidos.
Um Grande Momento
Mímico.
Links
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