(Mascarados, BRA, 2020)
Trabalhar com máscara. Usando ou produzindo. Ser mascarado ou estar mascarado. Os realizadores Marcela e Henrique Borela (Taego Ãwa) visitam todas as possibilidades do termo em seu longa-metragem. Ainda que a primeira impressão, ao fim da sessão, possa ser de um compilado frouxo e lindamente fotografado (por Wilssa Esser) em que se destaca uma ou outra sequência, porém sem corpo satisfatório enquanto filme, é possível chegar posteriormente à conclusão que Mascarados é uma obra… mascarada, fingidora.
Tudo indica que as máscaras habituais da Festa do Divino de Pirenópolis, a partir de determinado ponto, assumirão posição de destaque na trama, principalmente quando o áudio da televisão logo no início traz a polêmica proibição de seu uso por impossibilitar a identificação. E como identificar o que é ficção e o que é documental no filme? É isso necessário? Bom, o foco total nas máscaras nunca chega e o registro do festejo não é o clímax do longa, representando apenas mais uma oportunidade de euforia contra o empedernimento causado pelo árduo trabalho dos personagens principais, quebradores e carregadores de pedras.
O evento, no entanto, oferece um exuberante panorama do que representa o único dia de escape na vida de muitas pessoas. Bebida, dança, beijo na boca, chapéu, máscara, minion contribuindo para a embriaguez do povo e La Casa de Papel chegam à tela em imagens que de fato transmitem descontração e prazer na fuga do cotidiano – aberta, em oposição, pelo teatro da cavalhada e o labor coletivo do levantamento do mastro. É possível então um trabalho que dê satisfação? Será esse o caso do produtor das máscaras? Por isso ele se priva da brincadeira coletiva na rua? Já tem liberdade demais diariamente?
É abrigado pelo artesão o personagem já típico das ficções documentais contemporâneas: o forasteiro que faz as vezes de investigador das vidas dos novos amigos, pergunta tudo como quem não quer nada na hora do entrosamento, planta umas ideias aqui e ali e acompanha o flow do grupo numa posição de testemunha. Vivido por Vinicius Curva de Vento, o sábio paulista chega carregando inconformismo, palavras de incentivo aos companheiros e intimidade com a natureza – filmada com respeitoso distanciamento no meio da mata. Sua seriedade incomodada contrasta com a resignação de Marcos Caetano, em estupenda performance que brilha especialmente numa cena de reação que dribla as expectativas.
A incrível edição de som de Guile Martins não permite relaxamento ao espectador, seja com explosões na pedreira, seja com fogos de artifício; estouros semelhantes relacionados a imagens e contextos diametralmente opostos, no ar e na terra, na labuta e na farra. Ainda a respeito do que se ouve, a trilha sonora é impecável com Milionário e José Rico, Chrystian e Ralf e Odair José cantando pérolas que versam sobre mudar.
Usar a máscara é preciso seja para resistir ou transformar, mas de preferência para se libertar. Talvez realmente falte um pouquinho de conteúdo ou clareza para a coesão de Mascarados, porém, há manifesta segurança na enganação de que não.
Um Grande Momento:
Marcos recebe uma notícia ruim.