Documentário
Direção: Waad Al-Kateab, Edward Watts
Roteiro: Waad Al-Kateab
Duração: 96 min.
Nota: 6
“E você filma?”
Quem grita a frase é uma mãe desesperada, inconformada com o filho morto, mais uma vítima da nefasta guerra da Síria, onde os bombardeios são diários e as vítimas se multiplicam. A ideia de Waad Al-Kateab, com a ajuda de Edward Watts, é denunciar a atrocidade à comunidade e deixar uma espécie de diário a sua filha, a Sama do título, onde explica o motivo de ter insistido em ficar ali. O que se vê dói, choca, mas a frase reverbera e traz à tona questionamentos.
Para Sama é um filme urgente, visceral. A câmera na mão de sua diretora, sempre pronta para qualquer ocasião, quer dar conta de filmar tudo. E faz isso. A montagem, interessantíssima, mescla momentos de desespero e caos ao cotidiano e a momentos doces. A vida que continua num ambiente de medo e morte.
Mais do que isso, Waad tenta contextualizar tudo aquilo que apresenta, com um apanhado rápido, partindo dos protestos populares, passando pela repressão de Bashar al-Assad, a aliança com a Rússia e chegando até os bombardeios e a devastação de Aleppo, maior cidade da Síria.
Tudo muito certo e bem encaminhado, mas tem o “e você filma?”. Em sua ansiedade de mostrar o sofrimento da guerra, nem sempre a cineasta cuida das pessoas. Mais do que mostrar feridos, sangue e morte, ela quer mostrar a dor dos indivíduos. É assim quando um companheiro do hospital morre ou com essa mãe. Se o choque já é uma certeza – afinal, é uma guerra, com toda a sua tristeza e terror –, para que mais essa exposição?
A escolha pela câmera pode ser a mais fácil e suas imagens trazerem um apelo ainda maior, mas há uma falta de cuidado com aquele que se filma. No documentário é sempre importante lembrar a responsabilidade do diretor, e aí estão justamente as escolhas daquilo que é filmado e inserido na montagem final.
Logo após a pergunta, Waad se sente mal e isso está em sua narração em forma de diário. Mas a escolha se mantém e vai até o fim, como se falasse, sim, eu filmo porque preciso mostrar isso. Será que precisa? O mesmo questionamento serve para uma outra escolha bastante controversa: o uso de imagens captadas por drone. A carga impessoal que essas imagens trazem faz com que aquelas outras, mais urgentes, também possam ter essa interpretação de impessoalidade/oportunismo e aquele “e você filma?” soa muito pior.
Porém, mesmo com essa incompatibilidade que pode haver pontualmente entre objeto e objetivo, Para Sama é um filme importante pelo histórico que faz do conflito e pelo modo como se constrói, alternando momentos e por ser narrado como uma carta ao futuro. Que ele chegue e seja melhor do que o hoje.
Um Grande Momento:
O caqui.
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