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Momentos de Felicidade Insignificante

(Momenti di trascurabile felicità, ITA, 2019)

  • Gênero: Comédia
  • Direção: Daniele Luchetti
  • Roteiro: Francesco Piccolo, Daniele Luchetti
  • Elenco: Pif, Thony, Renato Carpentieri, Franz Cantalupo, Vincenzo Ferrera, Roberta Caronia, Angelica Alleruzzo
  • Duração: 93 minutos
  • Nota:

“Como você consegue viver sabendo que vai morrer?”, essa frase é dita em momento crucial de Momentos de Felicidade Insignificante, filme que chegou há pouquíssimo tempo a plataforma do Telecine e que, por inúmeros motivos, merece ser visto – a começar por essa frase acima, que a tratar do tema que o filme entrega, poderia até ser um bordão do mesmo, repetida inúmeras vezes, mas que tem a inteligência de “dizê-la” sem verbalizar, apenas demonstrando em ações o que está implícito e sugerido na mesma. Sim, é preciso ter coragem de viver sabendo que ela irá embora a qualquer momento, e nós nem sabemos quando. Nesse momento atual então…

O filme chega no Brasil em excelente momento de seu diretor, Daniele Luchetti (de Anos Felizes). Recém confirmado como autor do filme de abertura do Festival de Veneza que começa em um mês com seu novo Lacci, o italiano que completou 60 anos no dia desse anúncio tem uma trajetória bem sucedida pelos festivais europeus, já tendo competido em Veneza, Berlim e Cannes (seu Nossa Vida deu o prêmio de ator a Elio Germano por lá) sempre marcando presença com filmes leves porém contundentes, com discussões pertinentes acerca do tema que aborda, aparentemente despretensiosos mas que aprofundam seu debate para a condição humana intrínseca em suas narrativas.

Filme italiano Momentos de Felicidade Insignificante, com Pif

Olhar para o que Momentos de Felicidade Insignificante aborda no meio de uma pandemia global, onde só no nosso país estamos a beira dos 100 mil mortos, é provocar por si só um emaranhado de sentimentos, a maior parte deles profundamente mundanos diante da existência. Na abertura, o protagonista Paolo se questiona porque não estaria ele pensando da forma como sempre ouviu e leu que seria a morte, com grandes momentos da nossa passagem pela vida, e sim focado em dilemas profundos como “será que a geladeira fica mesmo apagada quando a fechamos?”. O roteiro, baseado em livro de mesmo nome de Francesco Piccolo, atenta para o óbvio – dar valor a essas pequenezas dão a vida o toque especial contínuo que nos faz acordar todos os dias.

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Luchetti raras vezes elabora suas imagens, constroi planos com múltiplos significados, aposta em cores e texturas que o diferenciem ou marquem mas se notabiliza pela questão humana arraigada e sensível com que articula isso narrativamente. Aqui nesse desdobramento de O Céu Pode Esperar, o diretor conta com a montagem de Claudio Di Mauro (premiado por O Último Beijo), que embaralha os tempos, as realidades e o desenrolar emocional do protagonista não apenas para criar bossa ou diferenciação estética, mas para colocar Paolo no lugar de espectador do próprio passado, interagindo com o mesmo como se no presente estivesse; esse artifício eleva o filme para além da simpatia inicial.

Filme italiano Momentos de Felicidade Insignificante, com Pif

O protagonista Paolo é vivido pela revelação Pif, diretor e ator premiado por A Máfia só Mata no Verão e destaque em Em Guerra por Amor, que empresta um misto de fragilidade, estupefação e naturalismo ao personagem; um homem como qualquer outro, de corpo comum e rosto idem, Pif está à vontade como o homem que vive o pior (e mais confuso e delirante) momento da vida, a possibilidade da morte iminente. Ao seu lado, Thony (de Tutti i santi giorni) empresta cuidado e veracidade a um casal sem arroubos românticos, cuja paixão se esvaiu em nome da rotina dos dias, e isso se traduz em traições e assuntos não-ditos traduzidos em inúmeros ‘você está zangada?’ espalhados pela narrativa, e respondidos com cansados ‘nãos’.

Talvez as reflexões que Momentos de Felicidade Insignificante não sejam as mais desejadas no momento difícil que estamos passando, mas Luchetti enverniza seu longa de maneira amorosa e esperançosa, muito mais em relação à forma com que lidamos com a vida do que no que acontecerá com o protagonista e sua vindoura morte. Em meio ao número grande de ótimas cenas (a repartição celestial, as inserções do ‘anjinho’, a cena do jogo com a filha, …), assumo minha porção emocional com a escolhida. Cai bem em um filme que vem acender um ‘pisca alerta’ na brevidade das relações que se descortinam nesse longa tão delicado, como o diretor tão acostumadamente faz.

Um grande momento
Um pai cheira seu filho.

Ver “Momentos de Felicidade Insignificante” no Telecine

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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