Crítica | Outras metragens

Nova Iorque, Mais uma Cidade

(Nova Iorque, Mais uma Cidade, BRA, 2019)

  • Gênero: Documentário
  • Direção: André Lopes, Joana Brandão
  • Roteiro: André Lopes, Joana Brandão
  • Duração: 18 minutos
  • Nota:

Em 2018, Patrícia Ferreira, cineasta Guarani Mbyá, foi à Nova York apresentar seu filme Nós e a Cidade no Margaret Mead Film Festival, que acontece no Museu Americano de História Nacional. André Lopes e Joana Brandão documentaram a viagem e a transformaram em Nova Iorque, Mais uma Cidade.

No passeio pelo museu, descobrem uma pérola, dessas raras de se encontrar, uma aproximação e abordagem muito precisas e vivenciadas – a vivência que aparece aqui como ponto fundamental – pela indígena. Antes de entrar em seu passeio, a documentada nos narra a intenção do filme. O momento é breve, descritivo até, mas a quebra se dá em seguida: “é muito grande essa canoa”. É a apresentação perfeita para que nos sintamos ao lado daquela personagem, prontos a caminhar com ela. 

Nova Iorque, mais uma cidade

A cineasta tenta localizar sua aldeia em um mapa estranho e observa intrigada a disposição das peças. Há todo um questionamento sobre aqueles objetos, seu significado, sua ligação com os donos que muitas vezes é ignorado por quem os observa. Na minha cultura, as coisas que a pessoa faz têm que ir junto com ela, explica. O lugar dos objetos, alguns sagrados e outros íntimos, dispostos como se nada significassem, incomoda e traz esse incômodo para aquele que está do outro lado da tela, talvez com uma pitada a mais de culpa para quem esteve ali antes.

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“Essas são as fotos que as pessoas acham lindas nos museus, as fotos dos povos indígenas, mas respeitam muito pouco”, diz dando mais uma sacudida em quem se afastou por algum motivo. Ao destacar a representação estática e vazia, a cineasta abre um outro debate, que questiona justamente a falta de contexto, de troca e ressalta a importância do cinema para estabelecer o conhecimento e a transformação. Ferreira apresenta seu filme ao lado de Vincent Carelli, um dos mais importantes cineastas sobre a temática indígena, principalmente por ter construído toda uma rede de educação audiovisual e visibilidade para as obras produzidas pelos povos originários.

Nova Iorque, mais uma cidade

O documentário escapa da relação estabelecida para mostrar que o Brasil daqui, ou melhor, o posicionamento da extrema direita, também está lá no cinema, acompanhando a sessão do festival e mantém o posicionamento raivoso daqueles que não enxergam toda a violência que está acontecendo agora e acontece desde a chegada dos portugueses. Para estes, como bem sabemos, não existe direito à fala. Se Carelli se enerva, Ferreira fala com muita calma e tranquilidade sobre uma vida que aquela pessoa desconhece e reafirma o seu direito de protestar.

Nova Iorque, Mais uma Cidade faz um jogo interessante entre a cineasta e aquele universo e brinca com o próprio filme de Ferreira, ao tomá-la foco de observação em outra cidade. Passeando pela Times Square, ela fala sobre capitalismo, natureza, tradições, tempo e vai além, fala sobre o respeito, aquele que ela tem com os outros e não recebe em troca.

Um grande momento
“Tadinha… tá sozinha no aquário”.

[1º As Amazonas do Cinema]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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