Crítica | Streaming e VoD

Vampiros x The Bronx

(Vampires vs. the Bronx, EUA, 2020)

  • Gênero: Terror, comédia
  • Direção: Osmany Rodriguez
  • Roteiro: Osmany Rodriguez
  • Elenco: Jaden Michael, Gregory Diaz IV, Toree Alexandre, Vladimir Caamano, Germar Terrell Gardner, Gerald Jones III, Coco Jones, Imani Lewis, Judy Marte, Adam David Thompson, Jordan Tyson
  • Duração: 85 minutos
  • Nota:

Produção minúscula da Broadway Video que havia sido adquirida anteriormente para lançamento pela Universal, Vampiros x The Bronx foi adquirido pela Netflix no mês passado e de maneira relâmpago já o entregou a plataforma. O que poderia ser um péssimo sinal é justificado pelo mês das bruxas, que vai fazer o streaming no mundo se encher de produtos fantásticos e esse já entrega o jogo no título; tá tudo claro já pelo batismo do filme, e isso nunca é um problema, pelo contrário, coloca a honestidade da produção acima do valor de seu orçamento, claramente curto. Aliado ao senso de comunidade que o filme quer vender desde sua primeira cena, a simpatia pelo projeto nasce facilmente.

Com uma quantidade infinita de curtas metragens e participações em quadros do Saturday Night Live igualmente enorme, o diretor Oz Rodrguez estreia na direção com um filme que quer se valer de uma admiração pelo passado desde sua atmosfera até suas influências, passando pelos valores que sua narrativa insiste em acessar; “e se um jovem Spike Lee fosse muito fã de Os Garotos Perdidos?”, o filme busca uma resposta pra essa tentativa mirabolante de questionamento com uma inocente volta ao passado em forma de montanha-russa de eventos, sem uma preocupação excessiva com diretrizes básicas do cinema, o que revela ao mesmo tempo suas deficiências e sua pureza de coração.

Vampiros x The Bronx

Tem uma forte crítica social explícita no filme, que denuncia o processo de esvaziamento das periferias urbanas, saqueadas pelo Dinheiro de quem pode comprar tudo e pelo Sonho, que nunca deixará de representar uma ilusão à realidade de quem não tem direito a um. O bairro que está no título do filme, distrito de Nova York, agoniza com a perda de sua comunidade, arrasada pela crise econômica, pelo desemprego, pela recessão, e o filme (junto com seus protagonistas) não só desafia as impossibilidades como ousa desejar uma retomada desse passado de glória que o filme louva; o futuro automaticamente representa qualidade mesmo?

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E nessa certeza de que dias melhores já foram vividos e podem ser retomados que o filme apresenta seu nêmesis, o passado com ânsia de futuro. Metaforizados por criaturas milenares, os vampiros do filme são o mal por excelência não apenas porque trazem a morte física, mas principalmente por trazer a morte geográfico-cultural, ao se apropriar de espaços por uma suposta modernidade representada pela gourmetização generalizada – tudo que é histórico se transformará em uma versão hype do mesmo, destruindo a identidade de vozes minoritárias por uma visão eurocêntrica. Ou traduzindo, os vampiros brancos querem exterminar negros e latinos.

Vampiros x The Bronx

Pode parecer escancarado até demais, e provavelmente é, mas esse panfleto nunca atrapalha a diversão, na verdade andam lado a lado essa camada engajada do filme e seu passatempo descompromissado, liquidificando os elementos pra encontrar uma mistura de sabor desequilibrado, sem ingredientes nutritivos mas de sabor marcante. O filme guarda pitadas de referências estéticas ao que o diretor de Faça a Coisa Certa costuma entregar em comédias (como Crooklyn) sem esquecer que se trata de um produto para consumo em larga escala, interessado em entreter acima de tudo.

O trio de protagonistas diminuto é talentoso e carismático, mas o filme não pode simplesmente se valer deles para encobrir as conveniências que o roteiro exige para que sua história possa funcionar, enquanto em outras sequências que esse descuidado narrativo soa como desleixo. Com essa desimportância que se dá, Vampiros x The Bronx nunca ambiciona um lugar muito elevado em qualquer análise de seus predicados. Há um entendimento da própria crueza de seu relevo, e é por essa inocência já citada anteriormente que o filme caminha. Sem qualquer preocupação elevada, Rodriguez manda seu recado e rapidamente tira seu time de campo, sem qualquer pudor.

Um grande momento
Blade

Ver “Vampiros x The Bronx” na Netflix

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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