Crítica | Streaming e VoD

Bronx

Excesso de controle

(Bronx, FRA, 2020)

  • Gênero: Ação
  • Direção: Olivier Marchal
  • Roteiro: Olivier Marchal
  • Elenco: Lannick Gautry, Stanislas Merhar, Kaaris, David Belle, Patrick Catalifo, Jean Reno, Moussa Maaskri, Catherine Marchal, Francis Renaud, Erika Sainte, Ambre Pietri, Jeanne Bournaud, Barbara Opsomer, Claudia Cardinale
  • Duração: 116 minutos
  • Nota:

Olivier Marchal é um ator diretor geralmente envolvido em thrillers policiais franceses, que já entregou uma dupla de filmes estrelados por Daniel Auteuil, 36 e MR 73, ambos eficientes como esse novo, Bronx, mas que possuem as mesmas características, são todos satisfeitos com os lugares que ocupam, são confortáveis e tem as mesmas ambições de entreter a plateia com filmes tensos e movimentados, universos predominantemente masculinos que se desfazem à luz de aparências. Mas há uma palavra que pode também ser atribuída à produção que aponta um dado preocupante: a correção, inerente ao filme.

É difícil se empolgar com uma produção que, apesar dos valores qualitativos visíiveis, seja tão comportado, e isso não gênero que geralmente peça pelo risco, pela desagregação. Há um excesso de harmonia nos quadros, uma ausência de ousadia aqui e ali. O gênero em questão, o policial, trata de questões obscuras, de códigos morais dúbios e de personagens que desafiam os limites entre o dever e o desejo, geralmente espelhando em seus tipos muitos desses valores. Na aparência, tudo está no lugar nesse grande sucesso do momento da Netflix, mas ao investigar seus planos com cuidado, as fragilidades da limpeza se fazem presentes.

Bronx, ação francesa da Netflix

Não é que falte ao filme a sujeira típica dos ambientes retratados, isso até está lá, o sangue, a ferida, a morte. Falta descontrole a Bronx, porque a todo momento parecemos enxergar as marcações de cena, as motivações da ação, como se pudéssemos ler a mente dos personagens e adiantar seus movimentos. Poderíamos chamar isso de clichês, mas é ainda mais complexo que isso; ok, já vimos esse filme diversas vezes, mas é a falta de transgressão que mais incomoda. Tudo parece ter um limite, inclusive as “barreiras ultrapassadas”, o sexo, o vício, o pecado, tudo é tímido e comportado, incluindo sua estrutura dramática.

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Há, por exemplo, um personagem “mal comportado” em Bronx – não que os outros não o sejam, mas esse parece puxar pra si as responsabilidades de todas os problemas, ao causá-los. O problema é que o personagem, Will, não tem necessariamente motivações ou mesmo um passado remoto de causa e efeito, são apenas conjecturas jogadas no nosso colo que precisamos aceitar, engolir em frente. O filme não contextualiza a depressão desse personagem assim como assume que sua trama já possa ser absolutamente comprada por filmá-la, mas não é assim. Ambientação não compreende narrativa, que no fim das contas é o que o filme tem, apresentação e espaço cênico.

Bronx, ação francesa da Netflix

Ao jorrar na tela a humanidade de quem filma, Marchal (também autor do roteiro) esqueceu de dar a eles uma trajetória, um campo de visão onde possamos compreender suas motivações independente de suas profissões. Sem um escopo que compreenda suas ambições e sem a instabilidade necessária para trazer ao filme a imersão do qual ele se ressente, o filme não passa de um divertimento sem maiores compromissos, cujas ligações com a tradição do policial pedem um envolvimento maior para criar relevância. Dentro de um universo onde tudo parece fácil, e a trama soa antecipada pelo espectador, o que se obtém é pouco.

Algumas cenas fazem a diferença pela qualidade da encenação, como o desfecho e a emboscada na enseada, mas nada que eleve o material por completo, apenas o torna agradável. Com um elenco competente onde as participações de Jean Reno (O Profissional) e da estrela Claudia Cardinale em discreta participação especial se sobressaem ao elenco principal, Bronx é mais uma estreia da Netflix que poderia ter sido superior ao que acabou sendo.

Um grande momento
A emboscada

Fotos: Mika Cottelon

Ver “Bronx” na Netflix

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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