- Gênero: Comédia
- Direção: Roberto Santucci
- Roteiro: Paulo Cursino
- Elenco: Maurício Manfrini, Cacau Protásio, Carlos Alberto de Nóbrega, Juliana Guimarães, Léo Lins, Serjão Loroza, Estevam Nabote, Aramis Trindade
- Duração: 98 minutos
-
Veja online:
Maurício Manfrini só teve a identidade “revelada” há quase 3 anos atrás, quando o sucesso Os Farofeiros aconteceu em sua vida de maneira absolutamente espontânea. Lógico que seu rosto já era conhecido (e também por isso uma multidão foi vê-lo no cinema nessa produção de 2018 que deve ganhar uma continuação a qualquer momento), mas quem o público foi encontrar nos cinemas foi o Paulinho Gogó, papel que ele apresentou em programas de rádio, foi parar na Escolinha do Professor Raimundo de Chico Anysio e acabou por 16 anos sentando no banco da praça de Carlos Alberto de Nóbrega, no SBT. O novo porto do personagem é o Prime Video, onde No Gogó do Paulinho estreou hoje.
Mais uma vítima da pandemia COVID-19, o filme dirigido pelo mesmo Roberto Santucci que o lançou no cinema repete a fórmula do programa A Praça é Nossa e coloca o ator recebendo transeuntes num banco de praça para contar seus causos, uma espécie de homenagem à casa que Nóbrega apresentou a ele durante quase duas décadas. Se a homenagem funciona rapidamente para quem conhece o personagem (e Manfrini e Gogó são tão a mesma pessoa na cabeça do público que o ator é literalmente chamado nas ruas pelo nome do personagem), cinematograficamente o filme se ressente de… parecer um filme.
Mesmo utilizando locações em quase 100% das cenas, No Gogó do Paulinho é essencialmente um conjunto de esquetes amontoadas, unidas em sequência cronológica pra justificar a apresentação do personagem a quem não o conhece, que é o que acontece. O personagem, um típico malandro carioca de origem humilde que troca ou ‘come’ sílabas, muda o sentido de palavras e frases e sempre está contando causos supostamente engraçados (“quem não tem dinheiro conta história” é o seu bordão), que funciona em um programa com claques, mas que ao menos nessa produção, não foi capaz de perder seu caráter original mesmo se apresentando ao ar livre.
Outro problema grave da produção é o fato de que absolutamente nenhum dos momentos humorísticos funciona. Já ouvimos falar que a comédia é muito particular e subjetiva, nem tudo que funciona para um espectador funcionaria com todos, mas o filme parece ter tanto cuidado para não parecer racista, machista, homofóbico, com suas cenas excessivamente controladas e contidas, que o humor mesmo parece ter pedido licença e saído do ar. Resta o carisma de seu protagonista, porque Santucci mais uma vez realiza o “arroz com feijão” que nos acostumou, travando o filme de qualquer qualidade imagética – mas ninguém, a essa altura, espera do diretor primor.
Dois único elementos dão energia ao filme, e saem dele limpos: Cacau Protássio e Estevam Nabote. A primeira, que tinha sido a partner de Manfrini em Os Farofeiros, vive a mítica Nega Juju, mulher da vida de Gogó e citada centenas de vezes por ele. Grande atriz que é, Cacau agrega efusividade e o naturalismo que faltam aos elementos do filme que deveriam ser cômicos, com seu talento natural, Já Nabote, revelação recente do Prêmio Multishow de Humor, trabalha com Manfrini há sete anos e serve como escada ao personagem aqui como outros três atores, mas nenhum se destaca como ele. O filme se ressente da ausência de Cacau e Nabote quando ambos não estão em cena.
Manfrini, infelizmente, não tem as melhores falas de sua carreira, e acaba preso ao roteiro bem pouco inspirado de Paulo Cursino, que tenta criar quase um “filme de origem” e esquece de ser um filme de comédia. As cenas são longas, as piadas perdem foco, e o ator não consegue dar o melhor de si, talvez preocupado demais em não perder o fio da meada do personagem que é seu principal veículo, e acaba sendo vítima da prisão que esse produto deveria representar para si.
Um grande momento
Não há