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A Bruxa da Casa ao Lado

Irregularidade dedicada

(The Wretched, EUA, 2019)
Nota  
  • Gênero: Terror
  • Direção: Brett Pierce, Drew T. Pierce
  • Roteiro: Brett Pierce, Drew T. Pierce
  • Elenco: John-Paul Howard, Piper Curda, Jamison Jones, Azie Tesfai, Zarah Mahler, Kevin Bigley, Gabriela Quezada Bloomgarden, Richard Ellis, Blane Crockarell, Judah Abner Paul, Ja'layah Washington, Amy Waller
  • Duração: 95 minutos

A Bruxa da Casa ao Lado foi o primeiro grande hit da pandemia Covid-19. Lançado durante o isolamento social, nos Estados Unidos, em poucas salas e no circuito crescente de drive-ins, o filme foi o primeiro na história a igualar a histórica marca de grandes sucessos de bilheteria como Avatar, Pantera Negra e Titanic por se manter por cinco semanas seguidas no topo das bilheterias. O longa tem o selo IFC Midnight, produtora/distribuidora dedicada ao cinema fantástico independente com um catálogo de qualidade irregular, mas que tem acertado ultimamente com títulos como Relic e Estranho Passageiro – Sputnik.

O filme dos irmãos Pierce, de Amor Zumbi, não é exatamente um dos acertos dos estúdios, mas tem uma elaboração que o distingue e que pode ser percebida desde as primeiras imagens. A trama mistura vários elementos de filmes de suspense e horror, a paranoia da casa ao lado, maldições ancestrais, bruxas, feitiços de memória e confunde tudo com suspeitas sobre a saúde mental. É, sem dúvida, um bom caminho a se seguir, ainda que bastante arriscado. Por trás de tudo uma adolescência que tenta voltar a se encontrar em uma vida que por algum motivo deixou de fazer sentido em algum momento.

A Bruxa da Casa ao Lado

Com a ajuda de Devin Burrows na trilha e Eliot Connors no som, bem afeitos ao clássico do gênero, há uma boa manipulação do suspense, mas muita confusão e facilidade também. A irregularidade de conjunto é muito perceptível na fotografia de Conor Murphy que tem momentos inspiradíssimos, mas é extremamente óbvio e descuidado em outros. A Bruxa da Casa ao Lado já desanda quando, por exemplo, depois de uma bela sequência de chuva, começa com a desnecessidade em um flashback pré-flashback, principalmente por ele só servir para destacar uma falta de coerência no comportamento da entidade e destacar um modo de atuação que já seria muito bem destacado posteriormente. Traz ainda no combo resoluções gratuitas, como o desfecho no lago.

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Pensando na construção enquanto gênero, A Bruxa da Casa ao Lado é um filme que sabe buscar elementos muito primordiais do horror e isso é um ponto positivo, a questão da bruxa da floresta, o resvalar no mito de Baba Yaga, da associação com símbolos e dos sinais entalhados nos locais por ela tomados, remetem a um horror bom de se ver. A própria representação da criatura é de uma artesania que interessa aos fãs do gênero, assim como os efeitos especiais. A cena de Dillon na floresta, por exemplo, é ótima. O problema do longa, porém, é que ele quer ser mais do que precisava. Ao invés de se dedicar ao básico e ao muito que tinha, quer impressionar sempre mais.

A Bruxa da Casa ao Lado

Há várias cenas que sobram no filme e não têm razão de existir ou só fazem sentido na cabeça dos diretores, assim como há uma necessidade de explicitar a alegoria mais do que ela precisa ser explicitada. Ela já está dada e precisa ser percebida e compreendida por quem o assiste. Se no roteiro já existe Sara, para que uma sequência como a da piscina? É algo que transcende a percepção de Ben e talvez atinja problemas que possivelmente sejam mais pessoais dos próprios Pierce. Aquela velha história, a associação de mulheres e bruxas, ainda mais assim, é complexa. Mesmo que haja um motivo por trás dela, sempre será incômoda. 

Porém, A Bruxa na Casa ao Lado cumpre o seu papel enquanto passatempo, principalmente para o público mais jovem. Há essa discussão interessante sobre a depressão juvenil e o modo como as mudanças são enxergadas, mesmo que estejamos em pleno século 21, mesmo que tudo tenha mudado. Aquilo que se pensa, independente da idade que se tenha e do quão descolado que se pense ser, ainda é a mesma coisa e as culpadas, para quem está olhando, ainda são as mesmas. Estrutural que chama.

Um grande momento
Dillon e o buraco

Ver “A Bruxa da Casa ao Lado” no Telecine

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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