- Gênero: Drama
- Criador: Gustavo Pizzi
- Canal: Canal Brasil
- Elenco: Karine Teles, Julia Stockler, Antonio Saboia
- Temporadas: 1
- Duração: 29 minutos
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Existe uma mistura que há tempos deixou de ser inusitada e se tornou quase uma regra aos olhos que já não se surpreendem com a religião pautada pela política, que por sua vez se garante com armas. As consequências disso é a intolerância como forma de controle social para manutenção de poder, e é com essa tragédia e resistência que Os últimos dias de Gilda, série brasileira disponível na Globoplay, nos conduz pela poesia de teimar em ser feliz.
Não mexe comigo, que eu não ando só
Eu não ando só, que eu não ando só
Baseada na obra de Rodrigo Roure a série traz Gilda (Karine Teles), uma mulher livre que ama diferentes amores, ora para diferentes santos, mantém sua independência, seu próprio sustento e diversão, vivendo numa vila que está em tempos de campanha eleitoral, troca do poder policial e crescente disposição dos vizinhos em fechar as portas da liberdade com um discurso ultraconservador religioso que vai muito além do cancelamento.
Seus amores não a julgam, ninguém é posse de ninguém. Não existe ciúmes e cobranças, existe carinho, respeito e amizade. O jeito justo e doce que a protagonista encara a vida a torna quase um refúgio para quem busca compreensão, mas incomoda aqueles que não entendem direito disso e se assustam quando a culpa e o medo não são os condutores e ditadores dos dias e noites.
Não ando no breu, nem ando na treva
É por onde eu vou que o santo me leva
Os últimos dias de Gilda não é fácil de ver rapidinho, apesar de serem apenas quatro episódios. As coisas vão acontecendo de uma forma tal que a tensão fica grande demais para aceitar o que nossa cabeça brasileira resignada já espera pelo título. Por outro lado, alguns personagens nos geram uma empatia tão grande que nosso coração quer torcer por uma virada, um destino melhor.
A cultura do ódio que extrapola o olhar inquisidor público e interfere no que existe de mais íntimo da vida privada não apenas deixa vítimas de desconformidade de jeitos de ser ou pensar, mas abre espaço para a intolerância que, como gatilho, pode não apenas gerar muita violência e machucar inocentes, como também, permitir que muitas mãos ganhem força de fogo e não de razão, o que invariavelmente leva todos à ruína.
O que é teu já tá guardado
Não sou eu quem vou lhe dar
Para todo tipo de coração (os que já não acreditam em melhora e os que seguem confiantes por dias melhores) e alma (condenadas, amarradas, livres e inexistentes) para ver de forma poética e artística o que os olhos já se acostumaram a ver colorido de sangue ou de falso patriotismo, ceifando vidas e liberdade na casa e na fé, mas não levando definitivamente o amor pela vida e a vontade de continuar teimando em existir.
O melhor episódio
T01E04 – Os últimos dias