- Gênero: Suspense
- Direção: Cheng Wei-Hao
- Roteiro: Cheng Wei-Hao
- Elenco: Chen Chang, Janine Chang, Anke Sun, Christopher Lee, Baijia Zhang, Lin Hui-Min, Samuel Ku, Lu Hsueh-Feng
- Duração: 130 minutos
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A cinematografia chinesa é cheia de mexidões. São aqueles filmes que, seja em tramas simples ou intrincadas, em modelos comerciais ou mais alternativos, misturam vários gêneros para chegar onde querem. O bom disso é que leques de temas e pontuações de momentos de fazem possíveis. Apesar da duração excessiva, The Soul, um dos muitos títulos orientais comprados pela Netflix nessa temporada, é um ótimo exemplo desse passeio entre possibilidades e estilos.
Claramente comercial, com inspirações em muito do que foi popularizado pelas mais duradouras séries investigativas, The Soul começa como um suspense policial que intriga quem apertou o play. O método já foi usado antes, mas o diretor Cheng Wei-Hao mostra que tem alguma coisa diferente para apresentar quando resolve percorrer um caminho lento e vagaroso pelo enorme casa. A contradição de tempo, o deslocamento e a própria exploração do espaço fazem com que a chegada na cena seja mais interessante. E ali, no que seria um assassinato, marcas ritualisticas. Terror?
The Soul vai se construindo assim, entre os gêneros. Ora incorpora um, ora descarta outro, mistura duas, três ou quantas coisas forem necessárias e não se intimida com reviravoltas. São quatro os seus personagens principais: o promotor Liang Wen-Hao, homem correto, prestes a ser pai que se descobre com câncer terminal; a policial Ah-Bao, esposa de Liang, melhor agente da divisão; Li Yan, viúva, herdeira e principal suspeita do assassinato; e doutor Wan, sócio do falecido, segundo herdeiro da empresa e melhor amigo da família. O longa passa por todos, cada um tem o seu momento e destaque, e nem sempre isso é positivo, uma vez que é assim que o filme acaba se perdendo na duração.
Porém, é também como ele estabelece melhor o encontro dos gêneros: o suspense policial é guiado pelo casal de policiais, enquanto o melodrama vem com toda a sua força com os relatos do melhor amigo. Já a jovem viúva está envolta pelo cinema de gênero, com uma trama que vai do horror à ficção científica. A tudo, vai colocando elementos característicos, como o detalhe dos investigadores antes de entrar novamente na cena do crime e mesmo a relação diversa com o místico. Além de sair do mais banal policial que depois de um óbvio tribunal chega à identidade de gênero.
A mistura de The Soul também é marcada pelas escolhas estéticas de Wen-Hao, por cores e texturas que se complementam e conflitam. Se fazem sentido em sua sobriedade, por vezes incomodam por seus exageros kitsch, mas é justamente isso que chama a atenção na produção chino-taiwanesa, a facilidade com que transita entre tanta informação sem se preocupar com o incômodo que isso está causando. A história se assume escalafobética e só vai, com todas as suas reviravoltas até que a última se revela.
Obviamente, não é um filme que tem uma pretensão de ficar marcado na vida do espectador, mas que faz bastante. Peca pelo excesso, pelos estereótipos que não consegue abandonar de gêneros e gêneros (isso mesmo, não é erro de digitação) e por um apego na montagem, quando se repete, mas é divertido na construção de seu caminho variado atravessado por vidas de estilos e características muito marcadas. Ao juntar tanta coisa conhecida para montar uma trama também conhecida, mas de maneira completamente diferente, Wen-Hao, de certa forma, inova no tempero do mexidão e dá vontade de repetir o prato.
Um grande momento
Invadido pelas cores e a luz do melodrama