Crítica | Streaming e VoD

Army of the Dead: Invasão em Las Vegas

Um retorno surpreendente

(Army of the Dead, EUA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Ação
  • Direção: Zack Snyder
  • Roteiro: Zack Snyder, Shay Hatten, Joby Harold
  • Elenco: Dave Bautista, Ella Purnell, Omari Hardwick, Ana de la Reguera, Theo Rossi, Matthias Schweighöfer, Nora Arnezeder, Hiroyuki Sanada, Garret Dillahunt, Tig Notaro, Raúl Castillo
  • Duração: 148 minutos

Muito antes de se embrenhar entre as aventuras fantásticas da DC e os generais gregos e seus exércitos, Zack Snyder nos apresentou o que seguiria sendo seu melhor filme, por mais que seus orçamentos só fizessem aumentar, o remake de um original de George Romero, Madrugada dos Mortos, mostrando sua relação promissora com o universo dos zumbificados – pode-se inclusive acomodar nas costas do diretor uma empolgação inicial com o tema, que viria a render séries de TV (The Walking Dead) e um número infinito de materiais de audiovisual, entre jogos de videogame, filmes, HQs, etc. Dezessete anos depois, a Netflix lança hoje Army of the Dead, retorno do diretor às suas origens.

Trata-se de um refresco necessário a uma carreira claudicante, cheia de intempéries com fãs e a Warner Brothers, produtora que esteve ao seu lado praticamente em toda sua carreira, chegando ao exagero de lançar duas versões de Liga da Justiça, uma delas de 4 horas de duração que acaba de ser lançada pela HBO Max. Com o que vemos em seu produto inédito, o retorno aos quadrinhos fez barulho para o que realmente interessa e merece atenção, dando sobrevida a uma carreira superestimada por bilhões de arrecadação que nunca significaram consistência. Aqui, o diretor parece muito mais motivado, o que acaba perceptível no resultado final, um filme não apenas empolgante, mas principalmente cheio de possibilidades e com muito a dizer.

Army of the Dead: Invasão em Las Vegas

Se o argumento segue uma fórmula padrão de “filmes de golpe” com uma pitada de mortos-vivos, o filme embala esse roteiro do próprio Snyder (mais Shay Hatten e Joby Harold) com acertos infindáveis de coluna vertebral narrativa, uma ambiciosa mise-en-scene que constrói soluções gráficas criativas e propõe uma investigação gradativa em cena no que concerne sua estrutura dramática, e um elenco modesto porém surpreendente. Com acertos técnicos muito evidentes, ficam claros os motivos para a confiança da Netflix no produto final, que inclusive colocou a produção nos cinemas americanos na semana passada.

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Em meio de uma crescente qualitativa no filme tanto do que apresenta imageticamente quanto em seu desenho narrativo, o esqueleto requintado de Army of the Dead não o impede de ser um blockbuster dos mais bem resolvidos do ano, em dobradinha perfeita com Godzilla vs Kong. Para além da diversão, contudo, Snyder serve ao espectador fatias de sociedade inseridas em um contexto de catástrofe; provável que, caso mais orçamento tivesse, criaria vários módulos se interseccionando em cena, visto que isso já é ameaçado. Em cena, castas sociais exploram umas às outras em meio à hecatombe social.

Army of the Dead: Invasão em Las Vegas

Ponto contra da produção, Snyder continua iluminando de maneira muito deficiente, e um filme de construção de planos tão rebuscada acaba perdendo um pouco de seu impacto quando tudo se resume a uma penumbra constante, que se serve para não evidenciar o digital, mas em contrapartida também torna a atmosfera ainda mais carregada e pouco crível, tendo em vista inclusive que toda a ação principal do filme ocorre durante o dia. Ainda que seu excesso em determinadas cenas seja benéfico para o recorte momentâneo da ação, no geral o filme perde em beleza gráfica devido ao breu quase ininterrupto.

Army of the Dead ainda reserva um belo momento para Dave Bautista (de Guardiões da Galáxia) na carreira, e conta com um trabalho entrosado de um elenco que entende que diversão não precisa ser sinônimo de descartável. Ao lado de um diretor com a sede da adolescência para compor planos visuais de muita sensibilidade, uma abertura eletrizante e absolutamente auto explicativa, uma trilha sonora genial que vai de Elvis Presley a emocionante “Zombie” do Cranberries, o filme cumpre seu papel com folga, deixa no público um sem número de possibilidade de roteiro que são pincelados sem esgarçar sua estrutura, e ainda mostra que seu diretor precisa abandonar a escuridão que seus projetos anteriores consentiram; que Snyder retorne para um spin-off desses personagens em vindoura série é sinal que talvez ele tenha entendido seu lugar.

Um grande momento
O bebê

Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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