- Gênero: Ação
- Direção: Roy Hin Yeung Chow
- Roteiro: To Chi-long
- Elenco: Louis Koo, Kai Wang, Ray Lui, Justin Cheung, Carina Lau, Tony Yo-ning Yang, Geng Han, Coulee Nazha, Eddie Cheung, Suet Lam, Philip Keung
- Duração: 5 minutos
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Escolha seu personagem, as armas e armaduras, o mapa. Formações dos batalhões, barrinhas de vida, golpes especiais. Musou mode. Rebelião do Turbante Amarelo, derrotar Dong Zhuo, os senhores da guerra e os reinos rivais. Sim, voltamos a Dynasty Warriors, videogame clássico de estratégia da Koei, que acabou de completar 20 anos e ganhou de presente uma adaptação cinematográfica. Mais uma entre tantas produzidas pelo encontro desses dois gigantes de marketing. Se há uma história, por menor, mais rápida, peluda e azul que ela seja, ela pode virar um filme. Mas é injusto falar isso de todos os games. embora alguns não se preocupem (ou se preocupassem) com isso, outros têm roteiros até mais sofisticados do que os de muitas séries ou filmes.
Dynasty Warriors era um desses jogos com um pano de fundo superelaborado, com personagens de formação e intenções independentes e muitas batalhas para narrar lendas e passagens da História da China. Por trás dele, na verdade, está um dos mais importantes romances da cultura chinesa: “Romance dos Três Reinos”, que fala sobre os últimos anos da Dinastia Han e do Sanguo, a era dos reinos divididos, até a unificação. Da obra requintada, detalhista, com passagens que se misturam entre prosa e verso, muita coisa ficou de fora do videogame, ou, se estava dentro, faltava tempo para ser lida nas muitas mudanças de fase. O longa de Roy Chow Hin Yeung privilegia essas informações e acaba se tornando algo mais próximo de uma adaptação da obra original — afinal de contas, faz mais sentido aqui — com elementos que assegurem uma reverência ao jogo que lhe empresta o nome.
Tem apresentação narrada pela NPC mítica que não se revela de pronto, com off e trilha grandiosa, enquanto o mapa vai se revelando. A sensação ao mergulhar naquele mundo é a de estar realmente iniciando uma partida. A quantidade de texto necessária — além da narração, ainda tem cartela — indica de qual família de jogo. E chegamos à primeira grande batalha, a Rebelião do Turbante Amarelo, trazendo elementos que vão definir o longa a partir dali e dividi-lo em dois: filme-console e filme-filme. Planos abertos para a grandiosidade da batalha e planos fechados para o tête-à-tête alternam-se sem parcimônia, e, no meio de muita encheção de tela, detalhes saudosos vão buscar tanto referências nas edições do jogo quanto as memórias do cinema chinês de artes marciais, muito wuxia, os filmes de kung-fu dos anos 1970, o besteirol do início dos 2000 e até alguma coisa daquela elegância para exportação que fez o gênero chegar ao Oscar. Quando Liu Bei, Guan Yu e Zhang Fei se apresentam, trazendo ainda mais elementos para as lutas e como as figuras importantes no game e principais soldados do período que são, o público vai fácil com eles.
É uma pena que o filme, confuso de sua identidade, não consiga fazer a conexão valer por muito tempo. Querendo ser fiel a todos e contar toda a história, Dynasty Warrior vai ficando tão inchado que começa a ter dificuldades de se desenvolver. O peso contrasta com a ansiedade — também indecisa — que “definira” a estética. Do exagero à ausência, planos agitados e frenéticos que lembram aqueles primeiros momentos de adaptação do jogador ao joystick se transformam em offs explicativos e flashbacks ilustrativos. Algumas coisas funcionariam bem se não fosse a vontade de sempre encaixar mais informações, como as alucinações de Cao Cao ou a reunião com os senhores da guerra. Falta a noção de que existe coisa demais ali e de que, talvez, nem tudo precise receber a atenção ou, pelo menos, tanto tempo de atenção.
Ser um outro meio, aqui, faz muita diferença. Se a fantasia, misticismo e História de Dynasty Warriors encontram formas de se concretizar, a empolgação com a representação dura pouco e se transforma em distanciamento e interesse pontual — sem as possibilidades de desinteresse ativo ou o “pular” que o game oferece. E, por mais que vá na obra primeira, não se pode esquecer que o filme nasce como uma adaptação do jogo, a dinâmica é diferente. É inegável que é tudo feito para ser muito bonito e grandioso, algo que o longa atende bem, mas falta, talvez, assumir essa relação de verdade. Quando o faz, traz passagens visualmente belas, como a do encontro com a Mestre do Castelo das Armas ou empolgantes, como o frenético duelo entre Cao e Lü Bu (este puro filho de console, com risadinha de vilão no meio da corrida, cavalo fazendo a curva e final apoteótico).
Empolga, mas a empolgação passa de demora até a aparecer novamente, fenômeno que se repete pelas quase duas horas de filme. Fatigante, ainda que conte com pitadas de emoção e interesse, saudosista reverente e dedicado visualmente, Dynasty Warriors é aquele jogo que a gente estava com muita vontade de jogar e, a medida que as fases passam, vai ficando sem saber se ainda está ali pela curiosidade com o final ou pelo que há de diferente na experiência.
Um grande momento
Cavalos na floresta