- Gênero: Comédia
- Direção: Jon Stewart
- Roteiro: Jon Stewart
- Elenco: Steve Carell, Rose Byrne, Chris Cooper, Brent Sexton, Will Sasso, C.J. Wilson, Topher Grace, Mackenzie Davis, Natasha Lyonne
- Duração: 101 minutos
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Não importa qual seja o país, nada faz circular mais dinheiro do que uma campanha eleitoral. Esse é o mote de Irresistível, nova comédia do Telecine estrelada por Steve Carell (A Grande Aposta), Chris Cooper (Álbum de Família) e Rose Byrne (Juliet Nua e Crua). Voltada para os bastidores da política, a produção parte da acachapante e inesperada derrota dos Democratas para os Republicanos nas eleições de 2016, quando apresenta a disputa entre os conselheiros das campanhas Gary Zimmer e Faith Brewster, respectivamente: “Estamos aqui porque sabemos mentir”. A intenção agora é reverter a opinião pública e trazer os votos de volta ao partido azul, e Gary (Carell) tem a certeza de ter encontrado a solução num fazendeiro de uma cidadezinha de Wisconsin.
Em seu segundo longa como diretor e roteirista, o comediante e ex-apresentador do The Daily Show, Jon Stewart, quer falar de coisas muito complexas como o levantamento de fundos, a falta de monitoramento de verbas e transferência de doações, mas se enrola todo. Ele faz um apanhado histórico fotos de campanhas e parte para a apresentação dos personagens. Ora acertando, ora errando na contextualização, consegue criar uma dubiedade em seu protagonista e conta com o carisma e a sempre eficiente atuação de Carell. Gary é um cara carismático que diverte, e embora tenha um sorriso cativante, seja simpático e tenha o seu lado doce é maquiavélico, arrogante, grosseiro e quer ganhar a qualquer custo.
Do outro lado temos toda a cidade de Deerlaken, que passa por uma crise financeira e precisa encontrar meios para sobreviver. É um daqueles lugares onde todos se conhecem e existe uma comunhão real entre as pessoas. Stewart trabalha com as diferenças entre o marketeiro e as pessoas de lá, brincando com o deslocamento nas coisas mais simples do cotidiano, como o abrir uma garrafa de long neck, procurar a rede wi-fi, usar o telefone da pensão ou o fato de todo mundo saber seu nome na primeira caminhada pela cidade. As idas à cafeteria, por exemplo, que sempre terminam com o café que “não é do jeito que ele gosta”, bolinhos e encomendas para entrega são divertidas. Porém, tudo é muito dentro do padrão, sem grandes ousadias, deixando mais espaço às atuações.
A dobradinha Carell e Chris Cooper funciona bem pelo descompasso da intensidade dos dois personagens. Gary é o típico homem da cidade grande verborrágico estressado e Jack, o fazendeiro de poucas palavras que aceita a proposta de concorrer à prefeitura. O momento mais inspirado do filme é o primeiro encontro dos dois, com a preparação para a proposta. Ali, com a montagem espertinha e um humor mais corporal do eterno Michael Scott, tudo parece estar no lugar, mas o diretor se atrapalha quando começa a querer mostrar uma propriedade naquilo que está falando e se esquece da graça e de qualquer equilíbrio. É quando Irresistível sai do caminho de vez.
Ao entrar no jogo das campanhas para valer, ele ainda consegue voltar ao humor vez por outra, mas nunca mais alcança a leveza e a fluidez. Byrne ressurge com sua personagem para criar uma outra possibilidade de conflito cômico com a disputa entre os dois partidos estadunidenses, mas o roteiro já está tão confuso que nada se encaixa. Os conflitos se resolvem no susto, as realidades se transformam sem explicação ou qualquer plausibilidade (como sair do wifigate para mineração de dados?) e a trama vai se desenvolvendo aos solavancos, tentando abarcar tudo que possa se relacionar a uma corrida eleitoral moderna.
Irresistível tem boa intenção e um tema rico para qualquer gênero cinematográfico, mas se prejudica com a vontade de mostrar de maneira elaborada e esmiuçada como tudo funciona, sem perceber que é nos momentos em que aposta na simplicidade que comunica mais e dizendo as mesmas coisas. Tem até uma reviravolta curiosa, que conseguiria ultrapassar alguns problemas, mesmo que a execução não fosse perfeita, mas Stewart, mais uma vez, explica demais o que aconteceu, ainda que agora volte para aquela simplicidade do começo. Há um resgate, mas que dura pouco e dá de cara com um especialista que, coitado, não tem nada com isso e cairia muito bem em um documentário sobre o tema, mas aqui é só o arremate da confusão.
No fim das contas, Irresistível vale pela mensagem, que vai encontrar ecos em um monte de democracias por aí, onde, independentemente de em quem se vote, no final das contas, quem ganha mesmo é sempre o dinheiro, e pelo elenco, mas é isso.
Um grande momento
Silêncio e choque na bancada