Crítica | Streaming e VoD

L.O.C.A.

(L.O.C.A., BRA, 2021)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Cláudia Jouvin
  • Roteiro: Cláudia Jouvin
  • Elenco: Mariana Ximenes, Maria Luísa Mendonça, Victor Lamoglia, Fábio Assunção, Roberta Rodrigues, Luis Miranda, Miá Mello, Cris Vianna, Kiko Mascarenhas, Érico Brás, Valentina Bandeira, Débora Lamm, Rafael Zulu
  • Duração: 85 minutos

Pegue um punhado de Cristiana Oliveira, Leticia Spiller, Elizabeth Savalla e Betty Lago (Quatro por Quatro), adicione uma colher de Jane Fonda, Lily Tomlin e Dolly Parton (Como Eliminar seu Chefe), acrescente um tanto de “cores de Almodóvar, cores de Frida Kahlo”… e talvez você chegue perto de L.O.C.A., lançamento prometido durante tanto tempo e que a pandemia (mais uma vez ela…) legou ao streaming, no caso a Premiere Telecine. Só pelas referências mais imediatas já se subentende que trata-se de um filme pró-feminismo, provavelmente empoderado e repleto de bom humor para tratar de um assunto sério: mais do que sobreviventes de relacionamentos tóxicos, o filme propõe a suas protagonistas uma auto reflexão a respeito de suas próprias escolhas.

Claudia Jouvin está em seu segundo longa-metragem como diretora, como roteirista sua experiência é maior, e ela já atuou em diferentes frentes e gêneros. A comédia rasgada não é uma novidade pra ela, que escreveu A Noite da Virada e episódios de Mister Brau, A Diarista e A Grande Família. Aqui, ela aplica um humor de caráter irrestrito ao universo feminino de opressão diária contra relacionamentos abusivos em casa e no trabalho De maneira leve, ela investe no tema com uma pistola tão carregada que os tiros acabam indo de encontro não somente ao alvo pretendido, quanto voltando contra o próprio tema e suas personagens.

L.O.C.A.
© Serendipity Inc.

Esteticamente inventiva, Jouvin já tinha apresentado arrojo em sua estreia (Um Homem Só), e aqui essa marca volta a ficar evidente, graças a uma direção de arte ostensiva. Concebida por Kiti Duarte com inspiração assumidamente almodovariana, o filme parece existir num espaço/tempo deslocado da realidade. Na busca por encontrar as mulheres à beira de um ataque de nervos de hoje, o filme se equivoca na calibração da encenação, que acabam saltando das cores berrantes e da ideia monocromáticas de cada ambiente (a predominância do vermelho, mas o amarelo e o azul também são perseguidos) para a corporificação de cada personagem, dando ao filme um tom histérico em todos os sentidos.

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Como se trata de uma comédia, essa histeria não é inválida o tempo todo, pelo contrário. L.O.C.A. é bem engraçado em determinadas cenas, provoca o efeito esperado a uma comédia que apela para o humor sem pensar duas vezes. Isso também é beneficiado pelo elenco, dirigido por Inez Viana. Além de ser imenso, trata-se de um grupo formidável – destaque para o ano maravilhoso que está tendo Victor Lamoglia (de Como Hackear seu Chefe, Me Sinto Bem com Você e Missão Cupido), além de Valentina Bandeira, Otávio Müller e Gisele Fróes – no qual as protagonistas não ficam atrás; Mariana Ximenes (de O Invasor) e Roberta Rodrigues (de Dois + Dois) estão excelentes.

L.O.C.A.
© Serendipity Inc.

A personagem e as escolhas de Débora Lamm (de Como é Cruel Viver Assim) e Maria Luiza Mendonça (de Todo Clichê do Amor) realçam os problemas do filme. Especialmente Lamm já demonstrou sua versatilidade e talento inúmeras vezes, mesmo aqui ele não é subestimado. Mas está nas costas dela o lugar de risco do filme, quando utiliza desde o início sua voz para confirmar uma das coisas que tenta ser destituído da luta feminina hoje: ser chamada de histérica, de louca, de inconsequente, de paranóica, até de mentirosa e criminosa, pelos seus atos. Lamm faz o que pode, mas a orientação aparenta ser que ela invista nesse estereótipo tão perigoso e irresponsável. Principalmente quando o filme diz que ‘nem todo homem…’.

Essa mensagem, que pode ser tranquilamente relativizada por uma plateia cujo pensamento empático coadune com a equipe majoritariamente feminina do filme, pode escapar a um público mais conservador, que pode então repetir os xingamentos de sempre relacionados ao que justamente pretende ser combatido. Assim sendo, a embalagem exótica e atraente de L.O.C.A. acaba sendo insuficiente para que suas ideias sejam amplamente compreendidas, ainda que seja um programa onde a diversão corra solta muitas vezes. Fica a pergunta no ar: cabe gargalhar quando a confirmação de um estereótipo errado está à espreita?

Um grande momento
O jantar na casa de Manuela

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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