- Gênero: Romance
- Direção: Mark Waters
- Roteiro: R. Lee Fleming Jr.
- Elenco: Addison Rae, Tanner Buchanan, Madison Pettis, Rachael Leigh, Matthew Lillard, Peyton Meyer, Isabella Crovetti, Annie Jacob, Molloy ... Quinn Kourtney Kardashian Kourtney Kardashian
- Duração: 88 minutos
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E lá vem a dona Netflix com mais um remake que troca apenas os gêneros, tal qual Do Que Os Homens Gostam, para tentar amealhar audiência, conquistando novas gerações — que ou eram bebês ou nem haviam nascido na virada dos anos 90. Porque se fosse para atualizar conceitos e trazer novos elementos às tramas até que se justificaria a existência de Ele É Demais que, sem surpresas, acaba sendo apenas mais uma produção requentada e vazia da gigante de streaming.
Tanner Buchanan (de Cobra Kai) tenta trazer alguma relevância ao filme de Mark Waters (diretor de Garotas Malvadas), mas pouco consegue já que o trabalho do roteirista R. Lee Fleming é patético. Porém, o foco central de Ele É Demais está em Addison Rae. Quem? Então, ela na realidade é a rainha do tiktok com seus 80 milhões de seguidores e agora investe numa carreira como estrela de cinema. Ela é demais, tem vários patrocinadores por trás e mesmo sendo esse filme algo constrangedor deve ser um dos mais assistidos da plataforma e render outros trabalhos audiovisuais para a influenciadora.
Mas vamos a crítica ou ao menos a tentativa de escavar algo para se falar sobre Ele É Demais e sua sucessão de erros, sub representação e clichês do gênero: Addison Rae é Padgett, uma colegial com seus quase 1 milhão de seguidores que dá dicas de beleza e banca a guru de autoajuda. Um belo dia seu namorado, Jordan VD, um branquelo metido a Vanilla Ice — meio que uma homenagem, mas totalmente desprovido de sutileza e graça, a Brock Hudson, o personagem de Matthew Lillard no filme de 1999 — acaba pisando na bola e a traição e consequente humilhação de Padgett é transmitida para todos os seus seguidores numa live. Segue-se a famosa aposta, onde a “amiga” e rival dela escolhe o niilista e solitário Cameron (Tanner Buchanan) para passar pelo extreme makeover.
Um óculos. Uma boina e um cabelo comprido sem corte. São essas características que escondem a beleza de Laney Boggs (Rachel Leigh Cook) e de Cameron do mundo. Até aí nada de novo sob o sol, apenas mais um filme que traz o tropo “Geek to Chic”, a transformação do patinho feio no cisne da escola, mais uma vez ensinando para os adolescentes que sim, você só vai ser amado pela sua aparência, por mais que lá perto do desfecho haja a típica crise de consciência e o reforço da importância da beleza real sem filtros. O curioso é que essa produção Miramax/Netflix mantém o casal branco, até de forma indisfarçada, evitando que a cobaia da vez seja um menino gordo ou latino ou asiático, ainda que faça questão de incorporar minorias na história.
Entre gracejos que os jovens descolados do Instagram adoram como evocar looks de outras épocas, como o baile/festa de aniversário inspirado no Grande Gatsby, Ele É Demais não tem nenhuma inspiração muito menos a autoironia do original. Porque o filme de Robert Iscove, uma espécie de adaptação do clássico Pigmaleão (cujo mais famoso filme adaptado é Minha Bela Dama), podia ser machista e um produto da sua época, mas também tinha as gags marcantes de filmes de high school e um certo ar sombrio, como outros produtos adolescentes dos anos 90 — na lista entrariam com certeza Um Crime Entre Amigas, Mal Posso Esperar, As Apimentadas e 10 Coisas que Eu odeio em Você.
Até com direito a participação de uma integrante do Clã Kardashian, Kourtney (afinal hoje em dia quem precisa saber atuar para estar num filme? Basta ser celebridade!) Ele É Demais erra rude ao apostar demais no carisma de Addison, completamente sem vida como a personagem meio que biográfica. E olha que a Laney Boggs, a Ela É Demais original, Rachel Leigh Cook, vive a mãe de Padgett e tenta dar uma força, imprimir alguma substância no arco da pobre menina que só quer popularidade e dinheiro para fazer faculdade em NY. Porém não há roteiro, não há nada que a atriz possa fazer para agregar algo à figura quase sempre marcante da mãe ou do pai da mocinha na comédia romântica.
Ele É Demais até intenciona não ser genérico e atualizar o dilema da popularidade, da maldade e da sobrevivência as custas de sufocar a própria voz para sobreviver aos tempos da escola para o drama das redes sociais e a obsessão por seguidores, curtidas e engajamento… De viralizar negativamente e precisar se reerguer para não afundar na depressão. Mas, simplesmente, não engaja a audiência do filme porque tudo soa mais falso do que o perfil da Pugli.
“Kurosawa, Kung fu e Kubrick”
Falsamente também Ele É Demais tenta se adequar à diversidade colocando meio que do nada a melhor amiga indiana do mocinho para fazer par com Quinn, a patricinha com ascendência asiática e amiga de Padgett. Mas, pelo menos, tem uma ceninha para os fãs de Cobra Kai matarem as saudades de Tanner Buchanan lutando, quando ele dá uma surra em Jordan após este tentar assediar a irmãzinha caçula. Inclusive, é lamentável que o elenco seja tão ruim ou talvez faltem talentos hoje como Anna Paquin e Kieran Culkin que fazem toda a diferença em Ela É Demais como os irmãos dos protagonistas. Além dos vilões Paul Walker e Jodi O’Keefe já que a atual vilãzinha é tão fraca que dá dó.
Ele É Demais traz até o background de Cameron e Padgett trabalhado mas ainda assim não dá vontade alguma de torcer pelo casal, já que toda a construção da trama é tão sofrível e superficial. Tem até uma subtrama envolvendo cavalos, que é uma forma que a influenciadora encontra de se aproximar do menino grunge que parece saída de alguma edição de Sabrina ou inspirada em Lua de Cristal – sim, tem uma cena meio constrangedora inclusive envolvendo um cavalo branco. O remake só dá algum respiro quando apela para a nostalgia, seja na cena do karaokê ou quando Matthew Lillard surge na cena do baile deslocado e destilando piadas e quando a mãe, Laney Boggs, ouve “Kiss Me” no baile e diz já conhecer aquela música.
Tirando uma ou outra voz autêntica que surge e dá uma repaginada nos filmes teen — Bo Burnham com seu Oitava Série é um exemplo — são filmes como Ele É Demais que provam que essa geração pós-millennial é chata e meio abobalhada, perdendo muito do charme ácido e o aspecto um tanto desajustado da geração que cresceu ouvindo o hit do Sixpence None the Richer.
Um grande momento
Diretor, Brock Hudson” se soltando no palco