- Gênero: Ficção
- Direção: R.B. Lima
- Roteiro: R.B. Lima
- Elenco: Danny Barbosa, Lay Gonçalves, Manoa Vitorino, Margarida Santos, William Cabral
- Duração: 20 minutos
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Não é necessariamente um curta metragem com abordagem original, mas como essa situação continua sendo pouco abordada e compreendida pela sociedade e ainda que no nicho do cinema nacional isso ainda tenha pouca amostragem, uma produção como ‘Adão, Eva e o Fruto Proibido’ permanece como uma aposta em narrativa que agrega afetuosidade e compreensão familiar a uma fatia ainda assassinada em larga escala no Brasil. Ao lado de outras obras do cinema recente, esse novo filme de R. B. Lima é uma bem-vinda surpresa carinhosa.
O diretor retoma a parceria com Dany Barbosa já visto em ‘Batom Vermelho Sangue’, e aqui a atriz continua uma escalada de excelência em sua jornada como artista de cinema. Aqui, sua porção intérprete ganha novas camadas, seu corpo e sua pele estão em evidência para mostrar sentimentos contrastantes e que revelam muito do passado dessa mulher, sem que precisemos explorar sua história. A presença de Dany ratifica as ideias que o filme já desenvolve em seu processo de aceitação de corpos não hegemônicos.
O que ‘Adão, Eva e o Fruto Proibido’ faz de mais interessante é empregar os dois pilares de produção, os corpos de Ashley e seu filho, em uma busca por um lugar no mundo. Essa mãe (que já foi pai) agora bronzeia o corpo em um biquíni que revela sua feminilidade; seu filho tenta despontar como um campeão de dança. Seus corpos estão mais em constante movimento, em conflito com a imagem, do que necessariamente um contra o outro. É o corpo preto e marginal agora em busca de vitórias que antes não eram permitidas para eles.
Com a duração própria de seu formato, o filme acaba abandonando suas potencialidades ao embarcar em uma elipse que tira a força de sua questão central. Quando seus protagonistas, com o enxerto de um flashback que antevê a chegada do rapaz, passam de um plano para outro de friccionados para auto acolhidos, a beleza imagética dessa montagem não deixa de arranhar o que a narrativa não preparou para chegar, saltando um período considerável para a aceitação esperada sem qualquer novo conflito; é bonito, sem dúvida, mas soa deslocado.
Bem intencionado e com segurança para alcançar o lugar desejado, aquele onde não haverá cobrança ou estranhamento em como são retratados seres periféricos nas telas, ‘Adão, Eva e o Fruto Proibido’ é mais um degrau em uma construção narrativa que descortina uma realidade despadronizada. Daqueles casos raros onde um curta-metragem possibilita o pensamento para um longa com ganhos narrativos ilimitados, era o caso de Lima pensar em explorar suas possibilidades para um formato que caiba a duração dos tempos preciosos de sua obra, e que aqui se mostraram insuficientes.
Um grande momento:
A batalha final