Já é clichê citar em sites de cinema que não faltam ofertas para aqueles que querem assistir a filmes sobre Natal; sem falar na desnecessidade, já que basta abrir qualquer plataforma para que pulem na tela dezenas de títulos dedicados ao tema. Já sabemos também que, quando a oferta é muito grande, a qualidade não consegue acompanhar o número, apelando para repetição de argumentos e fórmulas. Porém, mesmo que não sejam realmente originais, sempre é possível encontrar algumas surpresas divertidas e gostosas de dedicar o tempo pelo caminho, como esse Tudo Menos Natal.
A produção espanhola parte de um lugar muito conhecido, o personagem que detesta o período das festas e encontra alguém que quer reverter esse sentimento. Sem fantasmas dos Natais passados, ele é enviado em uma viagem para uma cidade onde a data é o momento mais importante da vida das pessoas e lá conhece esse seu anjo. Como dito, tudo reciclado não uma, mas várias vezes, só que aqui chega com o carisma e a química de Tamar Novas (de Alto Mar e A Desordem Que Ficou) e Andrea Ros (de Se Eu Não Tivesse Te Conhecido) e o roteiro leve de Francisco Arnal e Daniel Monedero.
Mais uma vez seguindo a tradição, Raúl, o Scrooge ou Grinch de de Tudo pelo Natal é apresentado na figura de uma auditor fiscal, com muitos flashbacks para justificar seu comportamento. O diretor Álvaro Fernández Armero não tem expectativas de esconder a essência do filme, escolhe transições mais divertidas do que elaboradas e assim vai construindo sua história. Do mesmo modo, mescla as situações e tem um bom tino para o humor, fazendo rir com seu personagem ranzinza e, ao mesmo tempo, querer saber se todo aquele mau-humor vai levá-lo 10.000 km para longe do Natal, como diz o título original do filme.
Se o Natal é o ponto principal do filme e o romance já é o plot aguardado, há uma outra trama que vem para temperar as coisas e envolver ainda mais personagens: o motivo da ida de Raúl à cidadezinha é a fábrica que ele vai auditar e é a principal fonte de renda do local. É curioso porque um inofensivo filme de Natal alcança sutilmente um dos grandes problemas das pequenas cidades interioranas da Europa, onde o fechamento das fábricas levam à evasão, à falta de perspectiva e ao consequente abandono dos jovens e de grande parte da classe trabalhadora.
Fernández Armero, Arnal e Monedero passam por isso e exaltam o senso de comunidade e união, usando esse período das festas e todo o seu exagero para deixar as coisas ainda mais doces e melosas, pelo menos até que haja o sentimento de ameaça. Também é aí que encontram espaço para criticar o capitalismo, mais uma vez sem nada muito explícito, no papel do antagonista Pablo, vivido por Peter Vives. A graça de Tudo Menos Natal é como o trio e seu elenco conseguem encontrar o equilíbrio entre todos os elementos para uma história que, além de todas as brincadeiras e encontros, acessa a tão falada magia do Natal, literalmente falando.
Depois de tantos filmes iguais, de tantas repetições de personagens e histórias, é bom encontrar filmes que tragam em suas subcamadas algumas outras coisas escondidas e que consigam provocar além do sorriso no rosto aquele calorzinho no peito. Mesmo que nesses pouco mais de 100 minutos não se veja algo exatamente original, há algo cativante em Tudo Menos Natal e só isso já é muita coisa.
Um grande momento
Quem conta um conto aumenta um ponto.