- Gênero: Ação
- Direção: Caio Cobra
- Roteiro: Caio Cobra, Mariana Seixas
- Elenco: Monique Alfradique, Rainer Cadete, Stepan Nercessian, Rafael Losso, Natallia Rodrigues, Antônio Grassi, Cláudio Manoel
- Duração: 86 minutos
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Exatamente duas semanas depois de lançar um de seus projetos engavetados por conta da pandemia, Caio Cobra lança o outro filme que estava na mesma situação. Virando a Mesa foi rodado há anos como Intervenção e também mofava na prateleira da Paris Filmes; agora ambos estão para apreciação no catálogo da Netflix e devem adquirir um status que não teriam no circuito, com as condições que o mercado enfrenta hoje. Trata-se então do primeiro produto inédito nacional a estrear comercialmente, o que por isso deve conseguir algum interesse a título de catalogação. Com tantas peculiaridades em jogo, essas parecem ser credenciais que o filme não pode dispensar.
Isso porque mais uma vez Cobra promete algo superior ao que entrega, mas aqui algum “prazer culpado” reside em acompanhar as desventuras mais que rocambolescas de Jonas, o protagonista vivido por Rainer Cadete. Trabalhando também como roteirista e montador, Cobra claramente tem muito orgulho do material apresentado, uma espécie de 2 Coelhos muito menos elaborado – estética ou narrativamente. Ainda assim, a produção tem algum carisma, porque elabora um sem número de situações, diálogos e personagens assumidamente nonsenses, trabalhando no limite do insuportável (e algumas vezes ultrapassando essa barreira).
Essa pretensão pop perpassa todo material, desde a montagem ágil até os grafismos animados que servem para apresentação dos personagens e que são utilizados apenas uma outra única vez; pra quê diabos esse detalhe é utilizado, então? Não que seja um problema isolado, porque o filme é composto de tantos erros a granel que fica difícil recapitular suas passagens. Seu visual, no entanto, não tem necessariamente sentido prático para dentro do próprio universo que representa, e segue sendo um apetrecho vazio em uma bacia de eventos, quase nenhum deles capaz de angariar méritos por si só.
O roteiro, no entanto, é ainda mais desastroso, tendo em vista que a colcha de retalhos de situações é acompanhada pelos personagens e mesmo eles assumem a quebra da quarta parede para declarar como pouco ali naquelas relações faz sentido. É uma espiral de golpes e trambiques que vão sendo constantemente apresentados para o espectador, envolvendo todos em cena, que não faz sentido prático para o processo como um todo. Não é o caso de múltiplos plots twists que farão sentido para alguns olhos; aqui, as situações se anulam, se tornam irrelevantes e perdem a graça, como o sequestro da lutadora por um dos vilões.
De duração muito reduzida, não tempo suficiente para que possamos explorar a consciência dos envolvidos; logo, não nos importamos muito com o rumo deles, sejam heróis ou vilões – aliás, um conceito do qual o filme não corrobora, quanto aos estereótipos de bem e mal. São elaboradas possibilidades reais de discussão moral em cena, mas nada é aprofundado, restando ao espectador ouvir diálogos cheios de uma sagacidade tão forçada e demonstração explícita de falta de personalidade, já que todos os personagens falam exatamente igual uns aos outros e isso compromete sua dramaturgia, ainda que tudo em cena carrega o artifício de maneira possante.
Com todos esses problemas, Virando a Mesa ainda consegue ter fôlego para prender o público na frente de uma trama tão estapafúrdia. Essa estrutura de desenho animado que o filme banca em seus detalhes não tem propósito definido em sua organização, mas é também ela a responsável para angariar algum carisma para a produção, onde alguns membros do elenco compram melhor essa proposta (Claudio Manoel) do que outros (Natália Rodrigues), mas cujo pacote guarda uma dose de sedução, ainda que desigual.
Um grande momento
O desfecho na delegacia