- Gênero: Suspense
- Direção: Seo You-Min
- Roteiro: Seo You-Min
- Elenco: Seo Ye-Ji, Kang-Woo Kim, Sung Hyuk, Yoo-Ram Bae, Park Sang-Wook, Park Bom, Yeom Hye-Ran, Gi-Sub Jung
- Duração: 99 minutos
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O primeiro boom do cinema sul-coreano na era moderna aconteceu há quase 20 anos, quando o mundo conheceu a assinatura de Park Chan-Wook em seu já clássico Oldboy. A partir de então, cineastas tão diferentes como Hong Sang-Soo, Lee Chang-Dong, Bong Joon-Ho e muitos outros ganharam admiração crescente da cinefilia, que celebrou a vitória de Parasita em Cannes e no Oscar com uma felicidade rara pelo uníssono. O cinema sul-coreano hoje é sinônimo de interesse coletivo, e um filme como Lembranças Sombrias, que acaba de estrear no Telecine, tem um potencial de alcance maior do que em tempos atrás; a sedução narrativa que a cinematografia local apresenta se faz presente aqui.
Como o título em português já sugere, a estreia na direção da roteirista Seo You-Min mostra que o artifício da distância temporal não apenas tem uma grande importância aqui como define os rumos da narrativa. Através desse jogo entre o passado, o presente e o futuro, o filme estabelece uma relação entre seus eventos que precisam ser minimamente compreendidos por um acentuado espelhamento entre realidades que precisam unificar-se para fazer sentido. Não há necessariamente uma propensão da produção a evitar a decodificação de sua trama, mas trata-se de um roteiro que brinca costumeiramente com as possibilidades apresentadas ao longo da projeção.
Infelizmente o roteiro de Seo precisaria ser muito mais articulado do que acaba demonstrando, ao vazar seus plots através de situações onde suas fraquezas se mostram evidentes. É uma estrutura dramática que envolve acidentes e amnésia traumática, avanços temporais mentais como resultados desses eventos, e uma realidade onde nada parece fazer muito sentido. O tom de estranheza constante não é suplantado nunca, porque o sentido cada vez passa mais longe, culpa de uma montagem nada fluida, que intercala seus momentos em camadas que não fazem sentido. Parece uma obra exposta demais para que percebamos qualquer qualidade apresentada.
Além de ser prejudicado pela edição que embaralha suas passagens de maneira a privilegiar a incompreensão, Lembranças Sombrias ainda utiliza um recurso antigo da dramaturgia para fazer valer sua virada mais importante. Ao colocar em cena dois atores fisicamente muito parecidos e proporcionar assim uma confusão que se pretendia sadia, o filme estica demais esse posicionamento e acaba por permitir que o entendimento se esvaia. Esquecendo da máxima que diz que seu autor não tente enganar ou diminuir a inteligência do público, o filme avança em disparada para ludibriar assim o espectador. Não há foco suficiente para dar conta de uma série de discussões, ainda que sejam todas pertinentes.
Lembranças Sombrias é uma produção que não sobrevive ao ato da análise, apesar de funcionar se o caso for procurar uma diversão sem compromisso para assistir. Com suas ‘inspirações’ ecoando aqui e ali que não podem ser ditas pela promessa de spoiler, o filme tenta a tanto custo produzir uma sensação de genuína surpresa, que o resultado a seu arsenal de plots é o cansaço profundo a partir de determinado momento. Sem características que provoquem uma direção comprometida com a autoralidade, o filme tem a seu favor a nacionalidade que, no momento, lhe realça em meio a seus pares de gênero. Tirando isso, sua trama de suspense dramático se perde em suas confusas pretensões.
Um grande momento
A despedida antes do consumo do incêndio