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A Gangue

Ação e reação

(Gully, EUA, 2019)
Nota  
  • Gênero: Drama
  • Direção: Nabil Elderkin
  • Roteiro: Marcus J. Guillory
  • Elenco: Kelvin Harrison Jr., Jacob Latimore, Charlie Plummer, Jonathan Majors, Terrence Howard, Amber Heard, John Corbett, Robin Givens, Ari Loeb, Mo McRae, David Garelik, Ashton Moore
  • Duração: 84 minutos

Exibido no Festival de Tribeca de alguns anos atrás, A Gangue está disponível no Telecine e fica difícil colocar em palavras o impacto que suas imagens ainda produzem, 30 anos depois de Boyz’n’the Hood, o clássico instantâneo de John Singleton. Revelando os talentos de Cuba Gooding Jr., Ice Cube, Angela Bassett, Regina King, Morris Chestnut e consolidando Laurence Fishburne, o filme foi uma revolução no cenário da cinematografia black estadunidense, e tornou as tentativas seguintes de beber dessa seara discípulos de suas ideias. É como uma revitalização, com elementos ora mais brandos e ora mais explosivos, mas sempre contundentes, e até por isso com profundas características que podem diminuí-lo.

Nabil Elderkin é um diretor de videoclips que estreia aqui na direção com intenções claras de passear pelo mais obscuro lado de um subúrbio norte-americano, com foco principal em três amigos e porcentagem elevada de representatividade preta. Acontece que Elderkin é branco, foi criado na Austrália, e tem vocação clara para a promoção das imagens que produz, muitas vezes de maneira estilizada. Não existe o uso de uma linguagem publicitária, necessariamente, mas o lugar onde o diretor se infiltra é terreno de alta periculosidade narrativa, mesmo com suas intenções positivas. Sua criação é bem ancorada esteticamente, mas esbarra em conflitos de natureza dúbia, porque sua abordagem passeia de gangorra.

Marcus J. Guillory, produtor e roteirista de Empire e Law & Order, assina um roteiro onde as ideias estão bem concatenadas e distribuídas sem excessos, mas usa e abusa de narrações, voice overs e frases expositivas demais. Contextualiza de maneira muito direta o terreno por onde seus personagens passeiam, mas na hora de dar voz a eles, opta por mergulhar em terreno metafórico, aqui e ali, tirando a força de um naturalismo necessário. A Gangue segue então mediando esses dois estados, seguindo por caminhos díspares em terreno acidentado, mas sempre encontrando espaço para expandir uma discussão que infelizmente não envelhece.

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Tematicamente, A Gangue cumpre seu papel de mostrar quem continua seviciando quem na sociedade – são pessoas pretas à margem sendo exploradas entre si, mas principalmente servindo para que brancos realizem suas experiências doentias. Há vilões, mas acima de tudo há também entre os ditos mocinhos pessoas igualmente desajustadas, como o jovem vivido por Charlie Plummer. Entre os protagonistas, todos foram devidamente deglutidos pelo Estado e sofrem as consequências de sequestros, prostituição e autismo, em uma fatia social que não apenas recebe o pior do sistema, mas não deixa também de ser massacrado pela vida, sem contra indicações.

O elenco é de primeira grandeza. Além de Plummer, Kelvin Harrison Jr. (de As Ondas) volta a mostrar seu talento, além de Jonathan Majors e Terrence Howard, demonstrando o que já sabemos sobre seus predicados. Mas Jacob Latimore (do recente O Massacre da Serra Elétrica), com grande utilização de sutileza, marca a produção com seu olhar nada óbvio sob uma condição já mostrada tantas vezes, aqui sendo respeitada. O filme não nos fornece todas as suas informações de cara (sobre ele ou qualquer outro personagem), então é Latimore quem vai nos levando pela mão até a profundeza de sua colocação, revelando tanto sobre sua natureza e também sobre a bela amizade que une os personagens.

Ainda que sob percurso acidentado, A Gangue revela uma ideia de cinema que ainda se movimenta através de denúncia, sem jamais deixar de demonstrar suas possibilidades tanto dramáticas quanto imagéticas. Misturando linguagens contemporâneas de audiovisual ao apostar no visual dos games para expressar passagens onde a violência se faz presente, o filme enche a tela também com um aspecto clássico que equilibra o todo. Seus pormenores sobressaem negativamente porque de fato confundem realidades e vivências, mas não dá pra deixarmos de observar que ele também dá voz a todo um processo de marginalização periférica, em todos os seus segmentos.

Um grande momento
Ataque ao pedófilo

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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1 Comentário
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Bruno
Bruno
29/01/2023 20:46

Simplesmente a crítica mais construtiva sobre a obra em sí…
Parece que finalmente alguém compreendeu e conseguiu dissertar o material e as ideias propostas.

Parabéns!

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