Entrevista

Entrevista: Agustina San Martín fala sobre Como Matar a Besta

Estreia dessa semana nos cinemas, Como Matar a Besta é o primeiro lançamento do ano do selo Sessão Vitrine, que a distribuidora apresenta há alguns anos para títulos cujo lançamento terão preços mais acessíveis nos cinemas. Sempre com produções relevantes e mantendo o padrão de excelência da distribuidora, o longa que chega agora participou do último Festival de Cannes e é uma co-produção Argentina e Brasil, daqueles títulos onde o DNA dos dois países está tão impregnado no conceito que fica difícil desatar os nós que os unem.

A jovem diretora Agustina San Martín concedeu a nós do Cenas de Cinema essa entrevista onde fala de suas inspirações, suas lembranças de infância, em como a sexualidade do filme também é um reflexo de suas andanças e de como as suas próprias experiências influenciaram esse conto de crescimento sobre uma jovem à procura do irmão prestes a descobrir a si mesma, em meio ao fantástico mundo das descobertas afetivas.

Como Matar a Besta
Divulgação

Cenas de Cinema: Com tantos elementos oníricos, com passagens tão simbólicas, como foi a origem da ideia de Como Matar a Besta?

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Agustina San Martín: A ideia surgiu pela necessidade de fazer um filme que possa ilustrar uma transformação e a descoberta da sexualidade de uma menina, mostrando como um filme de horror, de uma maneira tenebrosa. Os elementos oníricos têm a ver com sonhos que eu tive, e partem da perspectiva do que ocorre durante o despertar sexual de uma menina; há muito medo. Por isso o filme tem essa construção, porque nós vemos como ela vê o mundo.

CdC: O seu longa lida com limites fronteiriços bem marcados – geográficos e etários, somos constantemente lembrados de suas questões. Poderia comentar sobre isso, e da relação do projeto com o Brasil, enquanto co-produção?

Agustina: Eu viajei muito por lugares para fazer o filme, e fiquei muito apaixonada pelo lugar que encontramos. Um lugar de muitas misturas, onde todos falam ‘portunhol’, estão sempre cruzando a fronteira. Pra mim, ter tido a possibilidade de fazer esse filme em uma fronteira era uma coisa genial, porque estou fazendo um ‘coming of age’ também, além de ser um atrevimento relacionado à transformação. Nesse sentido, acho que a co-produção com o Brasil foi muito fácil e orgânica, porque precisávamos desse lugar que precisava existir no meio, entre duas parte, que não é nem uma coisa nem outra.

CdC: Você flerta com o cinema fantástico e de gênero, uma espécie de força sobrenatural habita naquela atmosfera. Qual a sua relação com esse cinema?

Agustina: Eu gosto muito do cinema fantástico, do sobrenatural. Eu sou fanática por filmes de terror desde os 9 anos. Sempre tive uma conexão espiritual com eles, de muita imaginação e muitos sonhos; esse universo sempre foi atraente pra mim. É muito interessante a quantidade de coisas que existem no mundo e que não podemos tocar, ou ver. Nós encontramos na vida uma série de coisas que não são concretas, e por isso mesmo mais interessantes. Por isso acho o cinema de gênero tão maravilhoso, coloquei muitas das referências dos filmes que assisti quando pequena no domingo à noite, pela televisão. São muitas lembranças.

CdC: A descoberta de uma orientação sexual libertária em lugar tão inóspito dentro de uma cadeia social, trazendo uma oposição entre a zona “rural” e desejos tão avançados, funcionando em contraponto. Como foi organizar esse paralelo?

Agustina: Eu acho que muito disso chega ao filme por experiências próprias. Eu lembro sempre de viajar por lugares rurais com uma namorada, de mãos dadas, e eu sentia uma certa pressão exterior, os olhos dos outros, uma atenção não desviada das pessoas, sempre surpresas. Eu tive medo algumas vezes, e chegaram a acontecer coisas nada agradáveis. Lembro que em uma dessas viagens, estávamos eu e minha namorada em uma aldeia de pescadores e não havia uma só mulher na rua; esses homens, bêbados, nos molestavam e sim, tínhamos medo. Eu não acho necessariamente que as zona rurais tenham a mente fechada pra nada, isso é um arquétipo, mas aconteceram alguma vezes de sentir que certos tipos de existências não se encontram por lá. Muitas vezes nesses lugares há uma sensação de asfixia que, para mim, que sou muito urbana, senti muito fortemente. Daí veio a inspiração para o filme, porque eu lembro desses homens… ao mesmo tempo em que isso pode ser uma ficcionalização de sensações que eu tive nessas ocasiões.

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Francisco Carbone

Jornalista, crítico de cinema por acaso, amante da sala escura por opção; um cara que não consegue se decidir entre Limite e "Os Saltimbancos Trapalhões", entre Sharon Stone e Marisa Paredes... porque escolheu o Cinema.
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