- Gênero: Drama
- Direção: Ruthy Pribar
- Roteiro: Ruthy Pribar
- Elenco: Alena Yiv, Shira Haas, Tamir Mula, Gera Sandler, Eden Halili, Or Barak
- Duração: 85 minutos
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O que poderia ser uma história de conflitos tradicionais entre duas mulheres unidas pelo sangue, acaba assumindo um outro caminho a partir da sua metade, e Mãe e Filha se transforma em uma produção menos instigante. Não que pudesse acontecer uma grande revolução narrativa a partir de outro aspecto, mas o que se desenvolve em cena é menos convencional até a metade, além de promover interessantes catarses dramáticas. Duas mulheres com pouca diferença de idade entre si, com necessidades emocionais próximas, poderiam sugerir uma intenção a cavar tematicamente essa mesma questão sob uma ótica familiar, que se desse propensão a um olhar mais agudo para essa interação que beira o desgaste desde sempre.
A diretora Ruthy Pribar é jovem e tem mais experiência como montadora, estreando aqui na direção de longas. O filme tem de verdade um ritmo constante que nos revela aos poucos a rotina dessas duas mulheres habitantes de um universo afim. Aos 40 anos, Pribar é ainda mais velha que Asia, uma de suas protagonistas, mas nada a separa muito de mãe ou filha, Vika. Portanto, a sua leitura a respeito desses embates, de seus anseios e das carências pelo qual ambas estão ameaçadas, em qualquer fase, é completamente compreendida. A diretora consegue ler com clareza essa dinâmica bifurcada entre uma mulher jovem com uma filha já adulta, onde ambas conhecem seus defeitos e qualidades, mas que uma espécie de competição interna já as rivaliza, como a sociedade impõe.
Essa primeira parte da produção, que tenta equiparar suas situações em lados paralelos, é superior ao fazer essa radiografia de um conflito de gerações e de personalidades, que se chocam e se completam ao mesmo tempo. A cena de abertura, onde vemos Asia sendo uma mulher que privilegia também seus próprios anseios, e as posteriores cenas onde a personagem investe em si, na sua sexualidade e na sua liberdade, estão entre as melhores da produção. A realidade de Vika longe da mãe, a paixão pelo típico macho otário do grupo, sua relação com a única amiga, a forma como lida com suas fraquezas, são igualmente pontos positivos que realçam a forma como essas duas mulheres, tão próximas e tão afastadas, releem o mundo a sua volta para servir aos seus desígnios. Há inspiração nesse tratamento tão específico.
A partir da metade, uma condição médica é explicitada e o filme, cena a cena, passa a esquecer sua força narrativa para se concentrar no que é mais clichê possível, reavaliando sua estrutura para uma nova discussão. Ou para a ausência de discussão; o que passa a valer em cena é a órbita hospitalar, com as suas personalidades sendo tragadas por um aspecto desse universo onde não haja mais qualquer dubiedade. Passam a ser exclusivamente mãe e filha, como o título em português as encerra e condena. Não há mais a agridoce relação que movia o roteiro, simplesmente desistindo de suas possíveis riquezas para se concentrar em um aspecto muito mais reconhecível por qualquer espectador, ainda que amplamente mais desgastado e previsível.
Da zona de conflito inicial, resta pouca coisa a acrescentar para dar cor a um projeto que se aquieta. Começa uma (precisamos admitir) suave via crúcis, cujos pontos mais delicados são tratados de maneira tradicional, seja do ponto de vista narrativo ou estético. É um cinema que passa a interessar cada vez menos, caso você se interesse verdadeiramente por lugares menos visitados; Mãe e Filha se torna um material descartável e até raso no que precisa então acompanhar. Seu ponto alto nesse momento, a inclusão de um novo personagem em cena, corre exatamente o padrão que se espera desse tipo de estratagema de roteiro. Ou seja, mesmo quando se interessa em criar novas camadas para que sua argamassa seja reestruturada, o filme não está muito interessado em desenvolver essas fatias de maneira pouco preguiçosa.
O que deixa Mãe e Filha ainda em um lugar de recompensa, é a sua dupla de protagonistas. Bastante premiadas pelo trabalho, Alena Yiv e Shira Haas interagem muito bem entre si e também desenvolvem suas personalidades independentes de maneira exemplar. Conseguimos sentir a angústia de ambas, por motivos diferentes, mas que estão em consonância na necessidade de expandir-se; seus desejos, suas vontades de irem além de seus papéis sociais. Ambas começando agora a ter seus talentos reconhecidos, Haas foi muito premiada por Nada Ortodoxa e aqui encara um desafio que, em outras searas, lhe daria o estrelato. Juntas, Alena e Shira transformam seu veículo em um material que o filme não consegue formatar com tanta qualidade assim – elas o elevam.
Um grande momento
A primeira cena