- Gênero: Comédia
- Direção: Tom Gormican
- Roteiro: Tom Gormican, Kevin Etten
- Elenco: Nicolas Cage, Pedro Pascal, Tiffany Haddish, Sharon Horgan, Paco León, Neil Patrick Harris, Lily Mo Sheen, Alessandra Mastronardi, Jacob Scipio, Katrin Vankova, Demi Moore, Anna MacDonald
- Duração: 107 minutos
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Filmes incríveis e atuações marcantes. Filmes bizarros e atuações esquisitas. São mais de 100 filmes desde sua primeira participação em Picardias Estudantis lá em 1982, ainda como Nicolas Coppola. Na filmografia, obras assinadas por nomes de peso e reconhecimento internacional e apostas erradíssimas em projetos que obviamente não chegariam a lugar nenhum. Fato é que, dividindo-se entre duas personas, a do ator tarimbado e a do operário da atuação, com o passar dos anos, Nicolas Cage foi se transformando também em dois: o cara talentoso e uma paródia de si mesmo, uma espécie de brincadeira onipresente do cinema. O jogo metalinguístico de Tom Gormican que estreia hoje nos cinemas, O Peso do Talento, acerta ao colocar na tela a crise, a personalidade bifurcada e a grandiosidade do ator — seja falando de suas qualidades artísticas e do quanto ele se tornou conhecido — e ainda inventar uma trama divertida, que dá a Cage a oportunidade de brincar com algumas das coisas que fez até hoje.
Ele vive ele mesmo, hoje em dia, e corre atrás dos papéis que o vemos investir ultimamente. Bem distantes daqueles que são dignos de suas habilidades. É o que achamos. “É isso o que eu faço”, ele responde, em tela, não para a gente, mas também para a gente. Ele atua, independentemente de qual papel seja. Precisa de dinheiro, é o trabalho dele, mas ele se entrega. E declama suas falas com todo o amor e dedicação em busca do papel fuleiro. O tal tespiano que ele falou e todo mundo riu no podcast da Variety um dia desses, o ator que se dedica e encontra dentro de si algo para viver o que quer que seja. Uma figura. Ao mesmo tempo, Cage sabe também o que foi, e é lembrado sempre por ele mesmo, num delírio que volta lá dos tempos de Sailor Ripley, por aí. E sofre quando sua grande oportunidade é “animar” o aniversário com um fã, no caso, Javi Gutierrez, vivido por Pedro Pascal.
O que Gormican faz é tranformar este personagem num reflexo de todos aqueles que, de alguma forma, se apegaram a Cage e a sua tortuosa, mas não menos interessante, trajetória e nunca largaram sua mão. Entre a crítica, a gozação e a homenagem, para esses, O Peso do Talento é uma delícia, mesmo que tenha lá alguma instabilidade no ritmo. Só por relembrar tantas passagens da carreira do ator e até mesmo juntar a memorabília que se tornou famosa com o tempo, de artigos de filme a peças bizarras, como a estátua de Castor Troy ou a almofada de lantejoulas, muita coisa já é perdoada. Outros, menos fanáticos, mas igualmente ligados a Cage, indo de Con Air a Croods 2, também estão representados no longa. E há, claro, o próprio, lidando com tudo isso, consigo mesmo e com aqueles que não tem a mesma relação ele, porque esses também existem e, no caso, estão bem perto.
O filme ainda busca uma intimidade fictícia para falar de assuntos mais pessoais e de influências pessoais e profissionais. Cage não fala só de suas frustrações e de seus momentos de glória, mas também de seus métodos e daquilo que gosta e dos filmes que marcaram a sua vida, seus e dos outros.
Para além do ator, há toda uma conspiração de espionagem e máfia que dá a Cage a chance de mergulhar em outras camadas, mesmo que no cinema de ação. Há o Nicolas Cage vivendo ele mesmo e este vivendo o espião que ajuda a CIA, e se havia alguma restrição ao projeto na primeira vez que o diretor o chamou para fazê-lo, isso certamente foi deixado para trás e as idas e vindas entre cada um desses pontos encontra a entrega habitual. Lá está ele de novo, e se divertindo. Assim como aqueles que estão junto com ele. Além de Pascal, com quem Cage tem uma boa química, não há como não falar da sempre ótima Tiffany Haddish, como a agente da CIA, ainda que sua participação não seja tão grande assim.
O Peso do Talento diverte o tempo todo, e o curioso é que nunca deixa a questão Cage de lado. Evidente e explícito no início, mesmo depois que se entrega à trama de ação não deixa o tema de lado, brincando com o ator no papel de agente e até mesmo de ator de filme tosqueira que revive tudo aquilo que acompanhamos em uma outra versão com Demi Moore e Anna MacDonald. É como um mergulho que resgata o que teve, o que marcou e o que existe, não justificando, mas explicando e fazendo seguir, enaltecendo, mostrando um outro lado e dando um merecimento a alguém que tem, sim, um valor que vai muito além do meme que acabou se transformando involuntariamente.
Um grande momento
O muro.