- Gênero: Ficção
- Direção: Eli Powers
- Roteiro: Eli Powers
- Elenco: Amanda Seyfried, Thomas Sadoski
- Duração: 17 minutos
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Há marcas que são de todas. E não exatamente porque sentimos pelas outras, também por isso, óbvio, mas por existirem agressões que se repetem há séculos contra qualquer uma de nós. Raríssimas são as que passam ilesas, a grande maioria é de sobreviventes de traumas terríveis, e que se repetem, independentemente de idade, raça, credo ou região. O cinema com suas possibilidades infinitas de dar forma à imaginação acaba sendo um espaço ao mesmo tempo de extravaso. Em especial no horror e suas alegorias, permite a reversão do que existe, assim como em Skin & Bone.
Essa talvez nem seja a intenção única do folk horror de Eli Powers, que já tem um histórico de buscar a influência e potência da natureza sobre o ser humano, vide a comédia Holy Moses, de 2018. Nessa fazenda isolada, onde uma mulher mora sozinha e um homem que evita o passado chega procurando abrigo, cria um embate sugestivo entre cristianismo e paganismo, patriarcado e matriarcado, tradição e mitologia já na apresentação. Esse jogo do mundano e da natureza que se estabelece possibilita leituras outras.
Aos olhos de uma mulher que assiste ao filme, e a seus ouvidos, através das letras da canção até bem evidente cantada por Serene, Skin & Bone fala de uma marca que vai muito além da pele e do osso do título, fala de feridas da alma. A diferença é que junto a elas, inverte pólos e dá o poder. A violência de sempre, aqui não está mais presente, é parte de um passado e de subjetivismo de quem assiste ao filme, transforma-se na punição prisão metafórica. A maldição é do outro.
Com Amanda Seyfried (Mank) e seu marido na vida real Thomas Sadoski (John Wick), o curta vai do suspense ao horror sem avisar, usando bem elementos do gênero, como as longas pausas, a trilha carregada, e scarejumps bem colocados. O modo como a tensão se constrói no estranhamento e no desconhecimento faz o filme ganhar pontos extras. Powers prova mais uma vez que sabe como fazer o público estar perdido e ao mesmo tempo conectado com aquilo que está vendo.
Há, claro, a visão da mulher bruxa ainda contaminada de determinações de uma estrutura corrompida, mas Skin & Bone consegue estar alguns passos adiante de outros exemplares de folk horror dirigidos e escritos por homens — esse aqui é roteirizado pelo próprio Powers — que existem hoje. E vai à forra, de um jeito tão humilhante para eles que a libertação só pode ser uma, pela mão de outro homem.
Um grande momento
No canto do quarto