- Gênero: Drama
- Direção: Barbara Bialowas, Tomasz Mandes
- Roteiro: Barbara Bialowas, Tomasz Klimala, Blanka Lipinska
- Elenco: Anna-Maria Sieklucka, Michele Morrone, Simone Susinna, Magdalena Lamparska, Otar Saralidze, Karolina Pisarek, Ewa Kasprzyk, Dariusz Jacubowski
- Duração: 112 minutos
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Antes de mais nada: onde entra o “finais” do título se o filme termina completamente em aberto? E não estou falando de um final atmosférico e até poético, porque, afinal, é 365 Dias, cinessérie breguíssima polonesa que jamais pretenderia ser um filme do Terrence Malick – no máximo, se contenta em ser um Cinquenta Tons de Cinza europeu. Mas causa algum espanto assistir uma produção chamada 365 Dias Finais, ou seja, a última parte de uma trilogia que parecia nunca acabar, e descobrir que o final não está lá; espanto e pânico. Afinal, teremos novos encontros com Laura, Massimo, seus videoclipes softporn baratos, a amizade teen entre duas mulheres de 30 anos, e mais alguns horrores ocasionais? Isso sim é um caso de desespero.
Dirigido pelos mesmos indefectíveis Barbara Bialowas e Tomasz Mandes, que darão trabalho ao Framboesa de Ouro esse ano por precisarem escolher uma entre duas pérolas, essa nova produção repete o festival de crimes contra a sétima arte já desfilados desde o primeiro deles. Aliás, são criminosos não apenas em relação ao que fazem com o cinema, mas também com o que fazem com o feminismo, com o mundo do crime, com a sororidade, com a nossa expectativa voyeur… os motivos para prisão não cessam. Mas lá estaremos nós assistindo ao final da série de livros adaptados para o cinema, em uma espécie de prazer não apenas culpado, como também absolutamente tóxico e doentio.
A fotografia continua sendo um compilado de cartões postais da Itália, Polônia e dessa vez Portugal também está na roda, vazios e sem personalidade. É o uso de nascer e pôr do sol mais despropositado que se tem notícia, em cenas sempre iluminadas para parecerem ao máximo possível com comerciais de perfume. Aqui, o mundo da moda de Laura dá as caras com um pouco mais de tempo de cena, e acaba por tornar o todo de uma plasticidade ainda mais insípida. Parece não existir salvação para a série, sempre procurando afundar mais e mais em uma sucessão incontornável de erros estéticos, narrativos e aqui podemos incluir também o continuísmo. Em determinado momento, a esperança de não voltar a encarar tudo isso contorna o filme de uma qualidade inexistente, soterrada pelo final.
No entanto, nada é mais irritante em 365 Dias Finais (e já o era nos anteriores) do que sua vocação para se bastar em produzir a venda de um EP para o Spotify em forma de audiovisual – de quinta, diga-se. É tão ininterrupta a utilização de trilha sonora, tão incômoda e onipresente, que na reta final, quando essa situação é interrompida por quase 15 minutos, bate um alívio tão grande que o filme chega a ter 1 estrela completa de nota por esse breve momento. Mas “o que é bom”, infelizmente dura pouco, e o compilado de canções pop de letras abomináveis volta para transformar o pesadelo em tragédia de proporções inaudíveis. Ao fim da sessão de tortura tanto em áudio quanto em visual, a ideia é fugir de qualquer aplicativo de música por pelo menos uma semana.
Por falar em sonhos e pesadelos, 365 Dias Finais, apesar de tudo, tem a melhor sequência de toda a série, e ela obviamente não aconteceu fora da cabeça de nossa protagonista. Mas vale a tentativa de colocar uma pimenta longe da heteronormatividade dentro de um ambiente tão verdadeiramente nocivo a qualquer pobre mortal. Quando Laura enfim fantasia sobre as suas reais intenções no triângulo amoroso estapafúrdio que vive, o espectador mais picante vai enfim entender porque nunca conseguiu torcer para que qualquer coisa além da morte, pura e simples, aconteça a esse casal. Chatos, em uma história de paixão das mais aborrecidas, Laura e Massimo precisam deixar de existir mesmo, e não apenas serem felizes – eles não merecem nada de bom.
A nota extra: porque Massimo não trabalha? Um mafioso dito perigosíssimo, que matou não sei quantas pessoas vida afora, desde que se apaixonou, virou um burocrata e passa o dia em reunião de empresa de novela das 8, balançando a cabeça com figurantes mudos. Nem pra isso essa série presta, para nos colocar a par da situação mafiosa atual dos italianos contemporâneos. Pensando bem, para isso, Jonas Carpignano existe; aqui, a burocracia é tão arraigada que até os poderosos chefões não passam de um grupo de burocratas. Nada mais condizente com essa xaropada, que fez o mundo parar para assistir a adaptações de Barbara Catland em plenos anos 2020.
Um grande momento
O sonho de Laura