- Gênero: Comédia
- Direção: Jesús Font
- Roteiro: José Pérez Quintero
- Elenco: Óscar Casas, Isa Montálban, Carlos Suarez, Jordi Sánchez, Piero Mendez, Lara Boedo, Amparo Fernandez, Ferran Gadea
- Duração: 85 minutos
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Poucas coisas conseguem ser piores do que uma comédia que não te faz rir. Talvez um terror que não te deixe tenso ou impressionado. Ou homenagens a títulos que não fazem muito sentido hoje em dia. Imaginem isso tudo junto, e chegaremos perto de HollyBlood, estreia da Netflix que, em tese, seria divertida. Produção espanhola que, tardiamente, vem comentar (nas entrelinhas) sobre o excesso de estímulo que nos ligue excessivamente a produções de terror, em especial às com elementos vampirescos. Anos depois do sucesso de Crepúsculo e suas continuações, partir para uma metalinguagem da paródia soa quase anacrônico, quando a vida de todos os envolvidos por lá seguiu. Jesús Font discorda, provavelmente, e entrega um filme aquém.
Font já está na função há 30 anos e sua produção televisiva é em quantidade muito maior que a do cinema. São inúmeras séries de tv espanholas, que a partir dessa demonstração, não devem ter acrescentado qualidade ao quadro geral de sua carreira. Aqui, o que é visto provoca diversos estímulos, de tensão e morte principalmente, mas essa pulsão não está dentro do filme, mas sim fora. O desejo de matar e morrer materializa-se no público que der o play no streaming, e que não percebe aos poucos que a armadilha aqui é generalizada. Não há escapatória para HollyBlood, que erra em quantidades generosas até o momento em que paramos de esperar algo positivo acontecer; só virá, cena a cena, comprovações diferenciadas a respeito da perda de tempo.
Assim como em Grease, raros são aqui os atores que parecem realmente ter a idade que dizem ter; diferente de Grease, isso não representa qualquer charme à produção, e sim erros contínuos de escalação. Esses erros não se limitam à faixa etária apenas, mas também à incapacidade evidente que a grande maioria do elenco tem em ao menos tentar demonstrar algum talento, que seja. O casal protagonista não tem qualquer química, muito menos carisma, e os coadjuvantes que os rodeiam não são exatamente o que se espera de um ator ou atriz. Ou seja, junta-se ao problema de escalação, um conflito a respeito da ausência de qualquer talento do grupo, salvo por Carlos Suarez (de A Casa de Papel) e Jordi Sánchez, que se destacam do todo, e nem deveriam se expor a isso.
Além da falta de qualidade, faltam também sentido e lógica na maior parte do que visto. Porque um adolescente (e não uma criança!) se faz passar por vampiro para conquistar a garota por quem é apaixonado, é uma das questões; timidez nenhuma justifica isso. Mais adiante, as questões estapafúrdias são resolvidas de maneiras igualmente esdrúxulas. Outro exemplo é o vampiro do filme mentir a respeito de sua verdadeira identidade, ainda mais porque as intenções dele não eram ruins; porque deixar os personagens imaginarem o pior? Escrito por José Pérez Quintero, o roteiro não é só enrolado na hora de desenvolver sua trama, ele também não consegue desenhar bem qualquer detalhe mínimo ou mesmo criar personagens minimamente críveis, originais ou interessantes.
Eu nem vou citar o trabalho estético de HollyBlood porque ele verdadeiramente inexiste. Nada chama a atenção, alguns efeitos especiais parecem apenas toscos, e mesmo a maquiagem nunca funciona. Quando nos “melhores momentos”, o filme parece feio e antiquado; quando a coisa desmorona de vez, o espectador fica refém de uma realização mal montada, onde alguns segmentos parecem acontecer fora da ordem acertada. Do ponto de vista da direção e da qualidade da produção, sobram motivos para esquecer qualquer passagem posterior de Jesús Font pelo cinema, e ainda desconfiar de quem se associar a ele no futuro.
Soa tudo como um pastiche mal feito, um grupo de adolescentes aficcionados por vampiros, apaixonados ou horrorizados, mas que não tem pais (apenas Javi tem pai, exatamente o personagem de Sánchez), o que tem sido um erro constante em títulos da Netflix. Como podem ver, HollyBlood é um amontoado de problemas, quase nenhum resolvido minimamente, que reverberam na cadência da produção. Fica a certeza de que sacrifício nenhum é suficiente para que valha a pena chegar ao final aqui, porque até o que se vislumbra com algum interesse – a amiga da protagonista, que é um arsenal de promessas não cumpridas – é deixado pelo caminho. O melhor a fazer com essa nova produção é simplesmente animar para conferir filmes de Mel Brooks bem mais interessantes sobre o mesmo universo, ou simplesmente passar para algum título melhor do próprio streaming.
Um grande momento
Javi e seu pai tem uma conversa sobre sexo