- Gênero: Drama, Policial
- Direção: Israel Adrian Caetano
- Roteiro: Israel Adrian Caetano
- Elenco: Diego Alonso, Catalina Arrillaga, Federico Morosini, Luis Alberto Acosta, José Pagano, Marcos da Costa, Sabrina Valiente
- Duração: 92 minutos
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De vez em quando, uma roupagem diferente chega para as mesmas histórias velhas de guerra, que oxigenam os formatos e as plataformas que têm bancado esses arrojos. A Vida de Togo acaba de entrar na Netflix e, independente do formato e da abordagem, estamos diante de um faroeste revisitado. Completamente urbanóide, repleto de marginais em seu recheio, com personagens protagonistas que geralmente estão nos lugares de párias sociais, mas ainda assim um faroeste. De uma cepa de onde já saíram Os Brutos Também Amam e Bravura Indômita, a produção acompanha uma dupla improvável que precisa enfrentar os malfeitores que acabam de chegar em sua zona de atuação. Essa é a premissa de muitos títulos famosos, e que aqui ganha o frescor típico dos desvalidos.
O filme traduz essa marginalidade em cena através de um universo sem qualquer rebuscamento, mas carregado de uma aura tosca que é um dos responsáveis pela sua identidade. A Vida de Togo carrega uma sujeira estética que vem a calhar no projeto, protagonizado por um homem em situação de rua, que trabalha como flanelinha de uma quadra específica e conta com a confiança dos moradores de sua área. O filme então se debruça sobre esse homem e sua rotina, a amizade com Milton, e o surgimento de Mercedes no seu caminho. São dados que constituem o personagem, e aos poucos vão criando não apenas uma narrativa, como um cenário de união entre esses tipos, ganhando tintas cada vez mais próximas.
Como tradicional do gênero, Togo é um tipo calado, soturno, mal encarado e que esconde um passado desconhecido. Como se trata de um homem que não tem moradia, isso é potencializado na narrativa, se encaixando à perfeição. Aos poucos, o cenário vai sendo ocupado pelos verdadeiros vilões – uma quadrilha de traficantes que ambiciona ocupar as quadras que Togo administra, para vender drogas. Assim sendo, temos esclarecido na narrativa todos os elementos do faroeste: o mocinho, os vilões, suas intenções, a parceira acidental. Ambientado em ruas uruguaias, A Vida de Togo é um longa ‘sui generis’ em se tratando de Netflix, por não empregar em seu roteiro os plots tradicionais que a plataforma costuma se dedicar.
Com muita simplicidade, o filme apresenta a história desses desgarrados sociais, seja por sua condição financeira ou pela carga psicológica. São pessoas que passaram por provações e se encontram à margem hoje, por escolha ou sem, mas que se identificam pontualmente com o que estão fazendo, até que sejam expostas verdadeiramente ao perigo. Mas seu micronúcleo, aquele onde a escolha é feita pelo afeto, entrega aos tipos de A Vida de Togo uma sobrevida ao que se vê. Seus protagonistas têm famílias, ou ao menos um laço familiar paralelo, que está presente também. Mas seus laços se conectam é pela perda mesmo, pela dor de não florescer onde se esperava, e é nesse lugar que o filme funciona melhor, quando investiga os afetos que se formam a partir dessa marginalidade.
O que torna A Vida de Togo uma experiência mais interessante, no entanto, não é exatamente o que o torna afetuoso ou humano, mas o rasgo em um conceito de qualidade que não precisa ser padrão. Caetano já esteve em competição de Cannes com Crônica de uma Fuga, um filme muito mais adequado a uma cartilha de determinação qualitativa, e aqui ele escolhe passar essas ideias para um outro lado. É essa textura sem maquiagem, que reverbera uma certa intenção imagética de qualidade duvidosa, que ajuda na apreciação da experiência. Enquanto projeto de recriação do faroeste a partir de tintas menores e mais arquetípicas, o filme é ligado a uma ideia tradicional; já na construção do plano e da construção, vemos um abraço a um tratamento quase porco, e essa sujeira nos atrai a esse projeto fora do comum.
Um grande momento
Mercedes em perigo
Caetano já tinha flertado com o faroeste no visceral El Otro Hermano, que eu acho mais interessante. Aqui Togo chamou muito a atenção pelo Diego Alonso, que foi o “Pollo” da icônica minissérie Okupas (que já te recomendei mil vezes, rsrs) e andava meio sumido.