Crítica | Festival

Carmen

Fábula moderna

(Carmen, MAL, CAN, 2022)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Valerie Buhagiar
  • Roteiro: Valerie Buhagiar
  • Elenco: Natascha McElhone, Michela Farrugia, Steven Love, Richard Clarkin, Henry Zammit Cordina, Peter Galea
  • Duração: 87 minutos

Em um momento tão cruel do mundo, com o ódio ocupando tantos espaços, encontrar uma fábula como Carmen é delicioso. Nas belas paisagens de Malta, sobrevivente da maldade da guerra e do machismo, a protagonista que dá nome ao longa de Valerie Buhagiar é uma mulher que ressignifica sua vida, e é um alento acompanhá-la nessa jornada. Condenada a viver servindo ao irmão padre por ter amado quem não devia, ela se vê sem nada após a morte do parente e acaba assumindo uma identidade falsa. 

A simplicidade é o tom do filme, que busca aquela transformação que traz a confiança e relembra a ingenuidade de um cinema que fez muito sucesso no passado, principalmente se buscarmos a cinematografia italiana como referência. Há, aqui, claro, muitas cores e um jogo marcado entre gerações, passado e presente, que dão o toque de originalidade à obra. Por outro lado, personagens, estruturas e interações são elementos com dupla função de referência e demonstração de perenidade da sociedade.

Carmen (2002)
Cortesia BIFF

Com um invólucro simples e opções nem sempre tão elaboradas, por vezes até cafonas, o recheio [e positivo e interessante. O machismo e sua perpetuação é trabalhado não só na óbvia relação de Carmen e sua família, ou na história que a faz se tornar aquela que precisa passar tanto tempo dedicada ao irmão. A mensagem está distribuída no roteiro em cada um dos conselhos dados, na relação da cidade com ela e até no modo como Rita, a substituta, enxerga a missão de vida. A autodescoberta e conexões fluem naturalmente, numa aproximação fácil e eficiente.

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Para além de uma história que abraça quem a acompanha com carinho, e fortalecendo ainda mais esse vínculo, está Natasha Ehone, muito bem como a mulher que se transforma e, meio sem querer, assume a missão de modificar aquilo que parecia solidificado. A atriz de Solaris e Ronin, depois de um tempo longe das telonas e dedicada às séries, esbanja carisma e transita bem entre os pólos de sua personagem.

Carmen (2002)
Cortesia BIFF

Fábula modernizada, Carmen é um filme cheio de doçura e afeto, e que encontra força na simplicidade. Porém, não deixa de ser relevante e, mesmo optando pelo caminho da ingenuidade,  chega onde deveria. É muito curioso ver como o jogo do resgate do tempo faz sentido nessa opção, pois há semelhança no ambiente, no filmar e no modo de contar, mas a história daquela mulher, tem um desfecho diferente, que traz a esperança em um futuro que começa a se desenhar melhor. 

Um grande momento
Pedalando com Jesus

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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