- Gênero: Drama
- Direção: Antoine Fuqua
- Roteiro: William Collage
- Elenco: Will Smith, Ben Foster, Charmaine Bingwa, Gilbert Owuor, Aaron Moten, Ronnie Gene Blevins, Steven Ogg, Mustafa Shakir, Jabbar Lewis, Paul Ben-Victor
- Duração: 130 minutos
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Há um ano atrás, estava começando a melhor temporada da vida de Will Smith. Vencedor de todos os prêmios televisionados do ano passado por King Richard, na noite da entrega do Oscar, minutos antes de sua consagração, aconteceu o que todos sabemos, O Tapa. Isso implodiu as suas novas chances, que já estavam sendo gestadas àquela altura, por esse Emancipation, que ninguém pode negar que é um novo veículo para prêmios. A bem da verdade, estamos diante de um filme muito mais ambicioso que o longa sobre a criação das irmãs tenistas Venus e Serena Williams por seu pai, porém quanto maior for a ambição do projeto… bem, o que está na tela fala por si, e o filme acabou de estrear na Apple+.
Antoine Fuqua nunca primou pela sofisticação, é um diretor de gênero que preza pelo entretenimento direto e descompromissado. Ainda assim, ele já esteve em festas de premiações, quando deu o segundo Oscar para Denzel Washington em Dia de Treinamento. Mesmo lá, tratava-se de um policial de grande sucesso de bilheteria, e agora nesse Emancipation ele encara um épico histórico baseado em eventos verídicos. Na conta das ambições do filme, se encontram os predicados comuns de uma produção típica. É tudo muito “bonito”, de tintas monumentais, com predicados sublinhados, e talvez isso tudo esteja tão evidenciado que mesmo a força estética saia perdendo no cômputo final.
A fotografia assinada por Robert Richardson (o gênio por trás de JFK e A Invenção de Hugo Cabret, dois Oscars) é tão fora dos padrões, com uma ideia tão única por trás de sua realização, que a todo momento o filme corre o risco de se tornar refém dela. Uma mistura de tons esmaecidos, pálidos até a chegada do preto e branco de fato, a luz utilizada parece abusar da saturação em nome de efeitos que nem sempre efetivam suas intenções. Por fim e nessa questão, Emancipation não se define entre os lugares de chegada desse ideal portentoso de iluminação. Ainda assim, não podemos restringir o trabalho de câmera a isso, e o filme cresce muito em momentos de grandes coletivos, quando visualizamos o resultado de uma obra que busca o requinte.
Fuqua não era o cineasta mais bem preparado para a empreitada, no entanto. O filme passeia por sequências que se repetem, mostrando uma predisposição ao que a própria produção estabelece antes, e volta a ramificar pela sua duração. Cenas de utilização de trilhos e gruas repetem-se, mostrando a falta de habilidade do diretor para cuidar de algo com essa grandiloquência. Ainda assim, Emancipation é um produto de bom gosto estético e com uma acertada proposta de não relaxar exclusivamente na questão de época; vide Harriet, um filme que nem tenta sofisticar-se. Mesmo que nem todas as decisões sejam as mais acertadas, ou que tais ambições pareçam desmedidas para a equipe, não há como negar o empenho e a tentativa de rebuscar seu resultado final.
Além de Smith, o elenco tem um outro destaque, que é a mais nova tentativa de Ben Foster em se mostrar o ator excelente que é, da qual ninguém liga muito. Enquanto o primeiro tem uma atuação exteriorizada que não vimos no seu premiado desempenho no ano passado, que evidencia o drama de um personagem que não cansa de sofrer, o segundo entrega a sutileza e a sinuosidade que um grande intérprete possui. Seu personagem é vilanesco o suficiente para precisar de qualquer outro apetrecho ou muleta; Foster responde a isso diminuindo seu tom até quase o inexistente, em momento de muita inteligência cênica. A última cena de ambos juntos é um dos melhores momentos de Emancipation e mostra a capacidade de dois atores em plena forma.
Emancipation, no papel, se comporta como uma mistura de O Regresso com uma pitada de Tempo de Glória, filme de sobrevivência que convive de maneira pouco harmoniosa com um drama sobre as guerras sulistas. No auge do descuido, Fuqua deixa passar o óbvio lugar de debate em relação a essa dinâmica polêmica de libertar os escravos e logo depois obrigá-los à linha de frente de uma guerra onde eles seriam o primeiro alvo. Tematicamente o filme poderia ser tão ambicioso quanto com a criação de suas imagens, mas como já dito, Fuqua é um cineasta interessado em mensagem direta – é ação e pouco além disso. Sobra uma produção vazia sobre uma figura muito maior do que seu material filmado.
Um grande momento
Peter e o jacaré