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Rotting in the Sun

Brincando com coisa séria

(Rotting in the Sun, EUA, 2023)
Nota  
  • Gênero: Comédia
  • Direção: Sebastián Silva
  • Roteiro: Pedro Peirano, Sebastián Silva
  • Elenco: Sebastián Silva, Catalina Saavedra, Jordan Firstman, Robert Keller, Gerardo Sierra, Juan Andrés Silva
  • Duração: 109 minutos

A arte, assim como o humor têm primordialmente que ser livres. É uma condição básica. Ao mesmo tempo, eles também têm que ser responsáveis. É uma condição essencial. Pode parecer contraditório, mas não é. Rotting in the Sun é um filme bem liberto, que quer brincar com as estruturas e peitar os padrões; divertido em sua forma e inventivo na distribuição da trama; mas escolhe um ponto de partida não só complexo como equivocado eticamente. Há coisas que não têm porque serem tratadas levianamente.

O longa conta a história de Sebastián, um alter ego do diretor Sebástian Silva, vivido por ele mesmo que passa seus deprimidos dias chapado de quetamina e pensando em um meio de se matar. Até que tira uma folga em uma praia de nudismo e conhece Jordan, um emocionado digital influencer cheio de vida que se apaixona por ele e decide que o quer em seu próximo projeto. A trama, que parecia focar na relação dos dois e na divergência de suas personalidades, porém, se transforma completamente.

Uma terceira figura, Vero, a empregada da casa do diretor vivida por uma ótima Catalina Saavedra (premiadíssima, inclusive em Sundance, por sua atuação em A Criada), até então coadjuvante, assume um papel de destaque e Rotting in the Sun  vira uma coisa entre o policial e o suspense. Silva é habilidoso nesse transitar entre o caos do começo e a tensão, passando bem pelos momentos cômicos, em especial depois da virada, ou seja, quando a auto percepção deixa de ser um elemento importante à narrativa.

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É algo que interessa, genuinamente, mas incomoda, porque tudo está baseado em uma mesma questão. O ponto de partida da trama é o desejo maior do primeiro protagonista e, por mais que isso se transforme ou não se concretize, muito se elabora sobre a ação depois, com definição e nomeação de método e execução. Há toda uma questão de culpa, sofrimento, tristeza, desilusão e depressão pela insinuação do ato. Há, inclusive, quem se aproveite disso, dentro e fora da narrativa, para criar fluxo ou mesmo fazer graça. E será que essa é uma coisa realmente que serve para isso?

A questão da saúde mental é muito delicada e o fazer arte vai além de produzir apenas para si e para os seus. Por mais que Rotting in the Sun tenha muitas qualidades, e ele tem, aquilo que se vê reverbera de maneira diferente em pessoas que tenham alguma sensibilidade ao tema. Fazer graça com isso é bem complicado. Uma pena que se desperdice a ótima história que surge com a tomada de protagonismo de Vero, toda a sua ansiedade, medo e a incomunicabilidade com Jordan.

Um grande momento
Subindo e descendo as escadas

[Sundance Film Festival 2023]

Cecilia Barroso

Cecilia Barroso é jornalista cultural e crítica de cinema. Mãe do Digo e da Dani, essa tricolor das Laranjeiras convive desde muito cedo com a sétima arte, e tem influências, familiares ou não, dos mais diversos gêneros e escolas. É votante internacional do Globo de Ouro e faz parte da Abraccine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema, Critics Choice Association, OFCS – Online Film Critics Society e das Elviras – Coletivo de Mulheres Críticas de Cinema.
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