- Gênero: Drama
- Direção: Colm Bairéad
- Roteiro: Colm Bairéad
- Elenco: Catherine Clinch, Carrie Crowley, Andrew Bennett, Michael Patric, Kate Nic Chonaonaigh
- Duração: 94 minutos
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Gestos, olhares, a respiração descompassada que indica o medo, o corpo que se contrai em si mesmo, ou o gesto de afeto, o sorriso de agradecimento e o abraço de acolhimento e outras demonstrações de amor. Por vezes, em silêncio se fala muito muito mais do que com palavras e é isso que fica do longa irlandês A Menina Silenciosa dirigido por Colm Bairéad e indicado a melhor filme internacional. Ele conta a história da pequena Cáit, uma menina que não recebe a devida atenção de sua família desfuncional e vai passar as férias de verão com um casal de primos da mãe, experimentando uma realidade diferente.
A menina, vivida de maneira delicada e impressionante pela jovem Catherine Clinch, é alguém que tenta se estabelecera apesar da invisibilidade e seu deslocamento, e sua vivência é muito palpável. Ela é alguém que existe, mas não parece fazer parte, nem de casa e nem de qualquer outro ambiente onde esteja. Porém, seu silêncio demonstra que a desconjuntura não atinge apenas ela. Tudo o que se mostra no começo do filme parece desconjuntado, e tendo o irlandês, a língua, reforçado mesmo que em poucas palavras, pensando no país dos anos 1980, o quadro geral faz sentido para além do literal.
Bairéad destaca a contradição entre duas realidades em A Menina Silenciosa. Quando Cáit vai ao interior, descobre uma outra vida e o carinho que jamais conhecera. A relação que ela estabelece com a prima da mãe, Eibhlín (uma ótima Carrie Crowley), é de cumplicidade e amor, marcada por pequenos gestos de afeto que significam muito para ela. Já a dificuldade de acesso a Seán (um também marcante Andrew Bennett) ressalta os traumas de ambos os lados, mas a doçura está sempre presente e a relação se constrói ainda mais forte. Apesar de todas as diferenças, o jeito de se comunicar permanece o mesmo, pontuado por poucas palavras.
Onde há um segredo, há vergonha
Os não-ditos de antes transformam-se com o tempo, assim como a protagonista. Sua quietude vai desvinculando-se da invisibilidade e do medo e assumem um traço de personalidade, algo que, aliás, ela começa a ousar desenvolver a partir daqui. Entretanto, eles são elementos que permeiam todo o universo do longa, estão na vida de todos aquele que o habitam, e têm parte importante – e dolorida – na de Eibhlín e Seán. Essa interação de silêncios, quebrada por uma única personagem, também é fundamental na dinâmica do longa.
A história de A Menina Silenciosa, baseada no conto “Foster” de Claire Keegan e roteirizada pelo próprio Bairéad, é simples. A narrativa se desenvolve de maneira cativante, com trilha suave de Stephen Rennicks (O Quarto de Jack); fotografia de Kate McCullough (Normal People), competente em mostrar não só as discrepâncias entre as duas realidades de Cáit, mas em explicitar os seus sentimentos, e preciso desenho de produção de Emma Lowney (Meus Encontros com Amber). Além das ótimas atuações e um controle muito preciso do tempo e do ritmo.
É muito difícil não se render a tudo aquilo que está sendo visto e, mais, não querer ficar mais tempo com aquela menina, se emocionando com ela em cada descoberta, sentindo todas as emoções e desejando que ela fique ainda mais tempo naquele abraço.
Um grande momento
No portão