- Gênero: Animação
- Direção: Capucine Gougelet
- Roteiro: Capucine Gougelet
- Duração: 9 minutos
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Todo mundo já esteve em um museu ao lado de alguém que ultrapassou aquela linha de segurança que existe para proteger as obras, ou viu uma pessoa tocando nas peças mesmo que várias placas e sinais dissessem que fosse proibido fazê-lo. E quantas vezes não viu gente fotografando escondido – e com flash – aqueles quadros ao lado de plaquinhas com máquinas cortadas dentro dos círculos vermelhos? Isso sem falar naqueles que comem, fala alto sem parar e nas crianças correndo de um lado para o outro. Pois Por Favor, Não Toque! reúne todas essas pessoas.
Com uma estética que remete ao construtivismo russo, em seus quase 9 minutos, a animação consegue resumir o que é o cotidiano de um museu de arte. São pequenos grupos, cada um com indivíduos prestes a cometerem uma das situações narradas acima e mais alguma outra que eu tenha esquecido. A diretora Capucine Gougelet é econômica nas cores, optando majoritariamente pelo preto, branco e vermelho, mas não nos elementos e transições. Ela sabe como construir uma narrativa concatenada e fluida, faz com que o espaço, mais do que apenas um fio condutor, se torne o seu protagonista.
As palavras são poucas no filme e se restringem às do título, que não precisam, inclusive, ser verbalizadas. Gougelet brinca com elas. Há uma crítica por trás de tudo, um grande questionamento quando o “por favor, não toque”, apresentado logo no começo corrompido gera tanto uma discussão quanto uma consequência divertida, apesar de absurda. O curta contrapõe a velha e a nova arte e o consumo do público, mas falta também de comportamento e do que está estabelecido.
A forma da animação, àquilo a que ela remete, faz, então, ainda mais sentido. Traz à tona a inquietação de um movimento que tem como princípio integração de arte e sociedade em conceituação e realização, e fala também sobre a quem se destinam as obras, numa reconfiguração revolucionária. Ali naquele museu, muita coisa acontece e somos levados naturalmente por um caminho, mas há um jeito correto de absorver a arte? Para além do cuidado de preservação, existem tipos de arte que precisam do isolamento? Quem é o dono da arte?
São questões complexas e que, com humor e desenvoltura técnica, chegam desmontando padrões e certezas pré-estabelecidas, pois são muitos anos de “por favor, não toque” e de uma abordagem elitista e excludente. Porque o curta de Gougelet vai muito além de um pensar interativo, embora essa leitura seja possível num primeiro momento. Ele é muito mais sobre a imposição e a formatação de comportamentos, sobre acesso e liberdade. No final das contas, Por Favor, Não Toque! é sobre poder.
Um grande momento
A foto