- Gênero: Comédia romântica
- Direção: Bill Holderman
- Roteiro: Bill Holderman, Erin Simms
- Elenco: Jane Fonda, Diane Keaton, Candice Bergen, Mary Steenburgen, Don Johnson, Andy Garcia, Craig T. Nelson, Giancarlo Giannini, Hugh Quarshie
- Duração: 105 minutos
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Acho que pra nós, brasileiros, nada chama mais a atenção em Do Jeito que Elas Querem – O Próximo Capítulo do que a primeira cartela de citação literária vir de Paulo Coelho, e seu ‘O Alquimista’ – livro que é citado muitas outras vezes durante a produção, uma das leituras do tal clube criado pelas protagonistas. Com o lançamento mundial esse fim de semana, o filme tenta fazer o mesmo sucesso que o primeiro de cinco anos atrás; hoje em dia isso é mais difícil, pois os hábitos de cinema mudaram no mundo inteiro. Um filme como esse chega aos montes nos streamings todo mês, e seu público tem ido muito seletivamente às salas, o que é uma pena, tendo em vista que essa produção é mais caprichada do que a anterior.
Se o primeiro foi um desses filmes inofensivos, que não inventou a roda e até replicou muitas ideias já vistas, esse novo Do Jeito que Elas Querem – O Próximo Capítulo não quer perder um jogo que já foi ganho anteriormente, então temos os mesmos temas do anterior, aqui realçados. A amizade vista anteriormente aqui é exacerbada, e é ela quem rege as relações, embora o filme não perca nunca o olho para os romances; o último plano entrega isso. Se o filme não chega a dizer que as amizades devem ser nosso foco primordial como no inspirado Minha Vida em Marte, aqui também são os laços maiores que definem nossas protagonistas – e isso transparece a cada novo bloco de eventos do filme. São quatro atrizes que usam um mote que não sai de moda (a amizade e os afazeres de pessoas da melhor idade) para exalar afeto, inclusive pelo espectador.
Outro recurso nada inédito que é acessado é o da tradicional viagem pelo mundo. Um primeiro capítulo mais local é sempre substituído por um encontro dos tipos em algum outro lugar do mundo, quantas vezes já não vimos isso? A diferença é que Do Jeito que Elas Querem – O Próximo Capítulo usa isso como um termômetro da realidade. O filme nos joga dentro da pandemia, e mostra o que foi a realidade de muita gente por três anos, principalmente aos indivíduos com mais de 70 anos: as lives substituíram os encontros presenciais, e o clube do livro que era o mote do primeiro filme, aqui vai parar no universo on line. Então isso também acaba por nos atravessar, quando o filme tem a sensibilidade de, sem precisar, trazer uma dose de contemporaneidade a uma comédia romântica. Por isso, a liberdade de uma viagem à Itália faz todo sentido, quando a pandemia no filme acaba.
Bill Holderman, um produtor que só dirigiu o primeiro anteriormente, volta para o seguinte sabendo que não precisa e nem vai mudar nada do que deu certo, só azeitar as relações, tornar cada questão de suas protagonistas ainda mais debatidas, entre si e internamente também. As dúvidas de Vivian em ter uma relação estável, a insegurança de Diane entre o novo amor e a paixão vitimada, a descoberta de uma Carol que o passado escondeu, e a mesma Sharon fogosa de sempre. Esteticamente, Do Jeito que Elas Querem – O Próximo Capítulo é um filme sem muitas invenções, mas com a lente obcecada pelo melhor que podem oferecer Roma, Veneza e Toscana. Ainda que algumas passagens tenham sido conseguidas com o uso do bom e velho CGI (e sejam perceptíveis), a beleza das cidades e do encontro das amigas nesses pontos valem a viagem.
As quatro damas estão, mais uma vez, em seus grandes momentos. Jane Fonda e Diane Keaton tem o que talvez seja a mais bonita e terna sequência da produção, quando suas personagens se abrem uma a outra após o jantar, Mary Steenburgen continua com aquele ar de ingenuidade delicioso, mas o espetáculo dos dois Do Jeito que Elas Querem é Sharon, sua magnífica verve cômica e seu olhar ao mesmo tempo pragmático e sarcástico. Candice Bergen, que nunca se consagrou tanto quanto suas companheiras de elenco, todas vencedoras do Oscar e ela nem indicada foi, mostra como isso é injusto, e que o tempo a tornou uma atriz ainda mais interessante. A conexão entre elas, e a participação de astros como Andy Garcia e Craig T. Nelson só injetam vibração na tela.
Sei que hoje em dia não é o suficiente para levar pessoas aos cinemas para acompanhar um filme que não tem nada de muito maior pra oferecer que não um passatempo seguro e momentos de lazer confortável, mas é com o que se contenta Do Jeito que Elas Querem – O Próximo Capítulo. Se não mudar a vida de ninguém, talvez seja apenas esse grau de comprometimento que um certo espectador precise. Ou refletir sobre como podemos ou não mudar de opinião em relação aos nossos sentimentos, em como nos sentimos em relação aos outros, ou com os rumos que tomamos, ao longo dos anos. Mudar ou não mudar: eis a questão.
Um grande momento
Vivian e Diane na sacada