- Gênero: Aventura
- Direção: Steven Caple Jr.
- Roteiro: Joby Harold, Darnell Metayer, Josh Peters, Erich Hoeber, Jon Hoeber
- Elenco: Anthony Ramos, Dominique Fishback, Dean Scott Vasquez, Luna Lauren Velez, Peter Culler, Ron Pearlman, Peter Dinklage, Pete Davidson, Colman Domingo, MJ Rodriguez, Michelle Yeoh
- Duração: 120 minutos
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Fazem quatro produções que não assistia a um título com a alcunha Transformers como acompanhante, e nem estava sentindo falta. Os dois primeiros exemplares foram experiências demasiadamente torturantes a quem vos escreve, de maneira tão profunda que mesmo o anterior, o elogiadíssimo Bumblebee, não cheguei a tomar coragem de assistir. Por ossos do ofício, cá estou debruçado sobre Transformers: O Despertar das Feras, onde um reboot completo aconteceu. Michael Bay, o diretor dos cinco primeiros e mentor da franquia, agora é só produtor, e desconfio que sua ausência tenha feito mais bem que mal; tudo parece verdadeiramente em seu lugar, depois de dezesseis anos onde tudo começou com um compêndio de imagens feias, produzidas a toque de caixa.
Esse é o terceiro longa de Steven Caple Jr., que se segue ao bem sucedido Creed II e vende o seu nome como o de um cineasta que devemos continuar prestando atenção. Sua mão suaviza o que era sempre vendido com uma austeridade que nunca deveria ter sido utilizada à premissa “robôs extraterrestres disfarçados de carros na Terra”. Particularmente, o meu problema com a ideia original nunca foi sua origem, mas sim seu tratamento; além dessa auto importância que o projeto exibia, a tecnologia não teria conseguido mostrar ao espectador mais do que uma bagunça visual. Filmes que mais pareciam rascunhos mal desenhados, uma estética escura para disfarçar o indisfarçável (tradição em Hollywood quando o resultado sai desastroso), nada era muito apresentável nas primeiras tentativas de animar um material que a Hasbro desenvolveu como brinquedos.
Agora, Caple e seu trio de roteiristas organizaram o campo onde podemos ter muito mais fluidez de eventos tanto à noite, na cena do ataque ao museu, quanto na maior parte do tempo, onde o filme se desenvolve de dia bem longe de Nova York, em um espaço cênico pronto para receber a ação. Digo isso porque me incomoda, vez por outra, que cineastas como Bay e principalmente Zack Snyder destruam cidades inteiras sem qualquer pudor ou senso de preocupação com a realidade. Mesmo a fantasia precisa resguardar uma ideia de recomposição diante de tantos prédios demolidos e pessoas que, provavelmente, se desintegram diante de invasões interplanetárias. Transformers: O Despertar das Feras resolve esse problema deslocando a ação para longe do que nos acostumamos a ver os robôs gigantes lutarem, o que sozinho já melhora em 50% do que se vê.
Outro avanço é entender que, se tratamos de párias na Terra, esses seres de outros planetas deveriam ter equivalente a eles também em sua defesa aqui. Logo, o protagonismo de Transformers: O Despertar das Feras está bem entregue a Anthony Ramos (de Em um Bairro de Nova York) e a Dominique Fishback (de Judas e o Messias Negro), que elevam o conceito de minoria pela primeira vez em uma série já protagonizada antes por Shia LaBeouf e Mark Wahlberg. Lógico que essa ideia não está colocada à mesa do filme, mas não é preciso muita análise para que se entenda que finalmente tudo parece se encaixar nessa franquia acidentada. Sem o visual turvo de outrora e com o elenco adequado tanto nos rostos quanto nas vozes (temos Colman Domingo, MJ Rodriguez, Peter Dinklage, Michelle Yeoh, entre outros), o futuro chegou em Transformers, finalmente. PS: a voz de Douglas Silva na dublagem em português é um atrativo a mais.
Agora, algo me parece surpreender positivamente ainda mais. Um dos produtores executivos da franquia sempre foi Steven Spielberg, e me parece que pela primeira vez aqui as homenagens a esse grande mito do cinema americano foram feitas explicitamente. Não que fosse uma obrigação, mas quando um dos robôs vindos do espaço demonstra saber quem é o protagonista de E.T., percebemos que algo foi gestado ali de maneira diferente. Quando Fishback é uma arqueóloga que busca artefatos antigos, a inspiração em Indiana Jones não pode ser mais óbvia. Tem sabor especial que estejamos vendo esses signos sendo reconhecidos na frente das câmeras, como uma forma de agradecer ao que esse homem fez à aventura e à fantasia, ao entrar em sua sexta década de atividades.
Não é que Transformers: O Despertar das Feras esteja se qualificando como um grande diferencial dentro de 2023, mas parece que podemos dizer que uma reabilitação se inicia. Com o projeto de um próximo longa já confirmado a estrear em dois anos, enfim podemos observar uma evolução dramática em curso que faça sentido ao projeto. Nunca deveria ter sucumbido à necessidade de criar um lastro sério a um projeto onde toda sorte de galhofas caberiam. Agora, restabelecido como um produto infanto-juvenil, talvez a franquia possa chegar a algum lugar menos danoso, oposto a tudo que vinha sendo feito.
Um grande momento
A despedida de Mirage e Noah, de seu irmão Kris