- Gênero: Comédia
- Direção: César Rodrigues
- Roteiro: Fernando Ceylão
- Elenco: Rafael Infante, Manu Gavassi, Diogo Vilela, Roberto Bontempo, Betty Goffman
- Duração: 88 minutos
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Eu já devo ter apontado aqui, mas como a frequência é ininterrupta, voltarei a abordar o tema, antes de começar a análise propriamente dita. Desde que começou a lançar filmes em período pós-pandêmico (e a estrutura/nome do que conhecemos um dia como 20th Century Fox passou a ser exibida quase de maneira tímida depois da compra), a Disney vem lançando uma enxurrada de produções nacionais no cinema, sempre da pior maneira possível. Digo do ponto de vista do marketing, do reconhecimento do seu terreno, de um mínimo empenho para transformar filmes visivelmente populares com atores idem em um sucesso, ainda que mínimo. Essa semana, Não Tem Volta é o novo lançamento deles, e como a maioria, merecia dignidade na hora de chegar às telas.
Isso é o que tem acontecido com a maior parte dos lançamentos nacionais de dois anos pra cá. Se o cinema internacional está em franca recuperação de números e retorno do público, o nosso produto amarga resultados muito aquém do que poderia apresentar por boicote de exibidores e pressão de grandes distribuidoras. Isso deixa de fazer sentido quando a Star Productions (que está fazendo às vezes do que a Fox fez um dia) é um dos braços da Disney, ou seja, deveria ter interesse em transformar suas produções em sucesso. Não Tem Volta, em particular, merecia o tratamento que um dia foi dado a, por exemplo, O Homem do Futuro, só pra pegar um sucesso que a Conspiração Filmes lançou há anos, e que também é responsável por esse novo filme.
A ideia é bastante original, e o filme a desenvolve com grande esperteza, e uma simpatia sem fim. Um rapaz decide contratar os serviços de uma empresa de assassinos de aluguel para tirar a própria vida, após perder a namorada. A tal empresa tem por hábito não aceitar a dissolução do acordo, seja qualquer o rumo que o proponente tomar após a decisão final. Acontece que após o contrato feito, Gabriela volta para a vida de Henrique, e agora ele quer mais é viver… e fugir de atiradores espalhados pelo Brasil. Não Tem Volta não tem o viés popularesco que as comédias da Globo Filmes apresentam, por melhores que elas sejam. Como se trata de um produto da Conspiração, em seu lugar entra uma rapidez de ideias e uma lógica dinâmica que coloca sempre suas produções quase no campo da ação.
Protagonizado por Rafael Infante, o filme também parece querer capturar a sagacidade do ator, que está entregue a uma persona que nós já conhecemos, mas com tintas novas. É um ambiente cheio de adrenalina que o ator carrega de sua vibração para dentro do filme, e Não Tem Volta acaba adquirindo um olhar próprio com essa agilidade. Infante também carrega uma coloquialidade tipicamente carioca ao projeto, e os outros ótimos atores que o cercam compreendem o espírito do caos instaurado. Isso passeia por tudo que está em cena, e acaba chegando mesmo no gestual e no corpo dos atores, que de tão à vontade, parecem ter sempre estado ali, naqueles cenários e interagindo uns com os outros. Isso não apenas torna o filme mais engraçado, como muito mais crível, e uma coisa alimenta a outra.
O filme também lida com esse gatilho fácil a respeito da rapidez das relações, que gera rapidez de decisões. Não Tem Volta está inserido no mundo de hoje, um campo onde há pressa para resolver felicidades ou tristezas, e tudo precisa ser consertado para ontem. A montagem de Bernardo Pimenta (de O Palestrante) aposta no ritmo que se conhece para esse sentimento de urgência que gira em torno dos acontecimentos, e a fotografia de José Roberto Eliezer (em grande momento, aqui e em O Diabo na Rua no Meio do Redemunho) limpa o filme de excessos visuais por entender que o ritmo é o motor da história, ainda que tratando bem cada luz. É um time que não está brincando, embora queira e consiga nos trazer diversão genuína.
A cargo de César Rodrigues (de Minha Mãe é uma Peça 2) e com um roteiro saboroso de Fernando Ceylão (de Como é Cruel Viver Assim), Não Tem Volta ainda encontra uma maneira de entregar ao enorme Diogo Vilela um personagem com a qualidade que ele não recebia no cinema desde O Coronel e o Lobisomem. Parecendo uma ponta à primeira vista, Vilela claramente se diverte e se homenageia também, e de alguma maneira estende esse carinho a todos os colegas de profissão em um ato de generosidade. Se não fosse por tudo o que foi citado até aqui, o filme merecia ser visto para que possamos celebrar sempre um ator do quilate de Diogo Vilela.
Um grande momento
Contratando os serviços
fiquei feliz ao ler essa crítica!