- Gênero: Infantil
- Direção: Gustavo Spolidoro
- Roteiro: Gibran Dipp, Gustavo Spolidoro
- Elenco: José Rubens Chachá, Totia Meirelles, Polly Marinho, Elisa Volpatto, Caetano Rostro Gomes, Mariana Lopes, Lívia Borges, Theo Goulart, Cecilia Guedes
- Duração: 96 minutos
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Assim como o streaming, ainda mais os cinemas se ressentem de estreias cujo público alvo seja o infantil em sua principal busca. No cinema brasileiro então, depois que Os Trapalhões deixou de ser uma realidade, o circuito passou a viver de espasmos, como os recentes Carrossel e Turma da Mônica. O lançamento de Um Carta para Papai Noel ainda agrega as produções natalinas a esse combo de ausências, e o espectador precisa compreender em que lugar a produção dirigida por Gustavo Spolidoro ocupa no cenário atual. Ao alcançar essa compreensão, talvez a análise aqui se tornasse menos sisuda, porque precisamos entender que, em linhas gerais, o público adulto não é o esperado aqui.
Spolidoro, diretor de um dos grandes filmes brasileiros da primeira década (Morro do Céu, além de Ainda Orangotangos), adentra o universo infantil quase expelindo adultos. E talvez até o público adolescente já ache Uma Carta para Papai Noel fora do seu campo de atuação, mas isso também não é um problema. Como dito, falta justamente produção que abrigue o tanto de público nessa faixa etária carente de novidades. Além disso, o gênero “filme de Natal” é uma instituição que chegou pra ficar no Brasil; só esse ano tivemos três diferentes. Em algum sentido, é muito bom ver o cinema brasileiro ocupando espaços que não estavam sob sua intenção, e aqui a vontade de embaralhar o lúdico com uma mensagem positiva a respeito da adoção ocupa um papel importante.
O diretor embarca nessa jornada que abre as possibilidades para outras áreas, tendo em vista que esse é um filme de alcance popular inegável. É uma guinada para um campo ainda não explorado por ele, mas que significa uma fatia diferente em sua filmografia, para caminhar em novas possibilidades. O resultado é uma produção essencialmente pura, como convém a um título que se embrenha pelo educativo, cuja comunicação infantil é a única possível. Uma Carta para Papai Noel tem apelo diante de um público infestado de informação, e precisa desacelerar do ritmo incessante que o audiovisual hoje consome. Talvez essa seja, então, a maior contribuição de Spolidoro a essa ideia, carregando o espectador a expandir seu olhar para além da velocidade ininterrupta.
Os valores apresentados em cena igualmente carregam a produção para esse espaço do passado, onde a sociedade se encontrava em outra dinâmica. São crianças desconectadas dos lugares que hoje são caros a cada um de nós, em qualquer idade, e que aqui podem desenvolver os lugares de criatividade que a tecnologia não permite mais. É quase um resgate de um tempo onde esse tipo de filme era possível sem encontrar maiores questões que hoje parecem caídas em desuso, quase um apelo à inocência. São sentimentos que acabam por transformar Uma Carta para Papai Noel em uma ideia deslocada no tempo, e que ao mesmo tempo resgata uma infância que julgamos perdida. Todo esse campo revisionista que o filme tenta explorar, ironicamente, pode acabar sendo mais apreciado justamente pelos adultos, vejam só.
Em meio a simplicidade eficiente dos seus efeitos especiais e de sua direção de arte, ao menos uma pessoa brilha no elenco quase integralmente composto por crianças. José Rubens Chachá nunca tinha sido protagonista de um longa-metragem, e aqui expõe todo o potencial que o teatro já tinha mostrado. Fazendo o personagem título, ele vai de um pólo a outro, da depressão a euforia, e cabe tudo nessa sua leitura de um tipo icônico, dentro do que a narrativa apresenta. Ele embala Uma Carta para Papai Noel de um status artístico que os filmes infantis geralmente abrem mão, e oferece a Chachá uma oportunidade rara de se aventurar também ele em zona desconhecida. Sua entrega garante a emoção de uma produção repleta de nostalgia emocional.
Um grande momento
Papai Noel recebe a carta de Jonas