- Gênero: Drama
- Direção: Laura Chinn
- Roteiro: Laura Chinn
- Elenco: Nico Parker, Laura Linney, Woody Harrelson, Daniella Taylor, Ella Anderson, Amarr, Ariel Martin, Keyla Monterroso Mejia
- Duração: 109 minutos
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Se o pano de fundo de Suncoast é a eutanásia, aquilo que está no primeiro plano do filme são as descobertas adolescentes de Doris. Sentindo sua existência apagada há algum tempo em função do irmão acamado, a menina começa a se permitir viver depois que a decisão pela interrupção da vida vegetativa dele é tomada. Relações familiares (muito) complexas, amadurecimento e ativismo religioso são algumas das coisas óbvias que se esperam do conflito principal e que indicam a necessidade de uma certa elaboração na condução da história.
Obviamente, isso determina até onde se vai chegar, dependendo da atenção que se queira dar à história contada, em peso, profundidade e complexidade. Em sua narrativa com traços pessoais, Laura Chinn quer mergulhar nessa dicotomia morte-despertar como consequência da ruptura da imagem materna ou prefere entregar algo que, ainda obscuro, seja mais “palatável” e alcance um público maior? Ela fica na segunda opção e, numa solar Flórida, entrega um filme menos arriscado, já mastigado e bem enquadrado em fórmulas conhecidas para emocionar.
Por aquilo que traz, não é difícil alcançar o retrato comovente. Contando com boas atuações de Nico Parker como Doris; Woody Harrelson como o ativista pró-vida Paul; e Laura Linney como a mãe Kristine, o filme alcança alguns lugares, mas não há discussões profundas sobre sentimentos ou soluções de conflitos, ainda que se queira despertar emoções óbvias. Aquela mãe e toda a dinâmica familiar estão sempre em foco. Kristine deixou de ver o mundo para olhar para Max, seu filho mais velho que entrou em estado vegetativo depois de um câncer no cérebro. Isso inclui sua filha mais nova, da qual passou a exigir o mesmo comportamento e dedicação. São muitos momentos absurdos, de egoísmo, excessos e descaso que se acumulam na tela e alguns pouquíssimos de preocupação e cuidado.
O ponto de vista da protagonista acaba não tão bem delimitado e Kristine tem as tintas sobrecarregadas. A imagem quebrada ultrapassa a tela e, em especial com aquilo que está nos créditos, reforça a ligação da diretora com o que está sendo contado. Enquanto existe uma mensagem de reconciliação e perdão, aquela representação, fria, excludente, opressora e ignorante está, de alguma forma, em um imaginário contaminado pela mágoa e é por ela determinada.
Emprobecendo uma personagem que seria interessante para os conflitos da trama, seja na questão com as filha como na dificuldade em lidar com a despedida e todas as discussões exteriores que envolvem a eutanásia e não deveriam, o filme se enfraquece e se esquece de seus pontos principais. Aquilo que seria enorme torna-se menor diante do trauma da relação. Há outros problemas no roteiro, como o deslocamento da figura de Paul e a função que assume sem muito engajamento, além da artificialidade nas amizades entre Doris e as colegas da escola. O que segura Suncoast, no fim das contas é que, de alguma forma, por apostar no modelo mais tradicional e palatável, a amarração segue um caminho coerente e chega onde gostaria.
Um grande momento
Não sei porque eu disse isso… tenho uma filha também